Estava tudo combinado para aquele final de tarde: saía do
trabalho direta à escola, entravamos juntos no carro, sorridentes e enamorados,
e seguíamos para o nosso jantar a dois, num qualquer centro comercial à mesa de
um qualquer restaurante de fast-food.
Para mim, a mãe, e para ele, o filho, aquele era um encontro
planeado, programado, desejado e ansiado. Então, o final do dia de trabalho
custou mais a chegar… O dia dele, na escola, teimou em alongar-se. E o nosso
final de tarde, a dois, escapou em escassos minutos assemelhados a muito pouco,
como só acontece com os momentos bem passados.
Naquele dia eramos só nós, de mão dada pelos corredores do
centro comercial, a olhar montras displicentemente, a escolher entre hambúrguer
e bitoque, a decidir entre a mesa da janela ou a do canto. Jantámos frente a
frente, de olhos nos olhos, a conversar como gente grande, a agir de igual para
igual, mesmo que em determinado momento eu o tenho ajudado a cortar um pedaço
do bife mais teimoso. Não falámos sobre a escola, nem sobre o trabalho. Não
falámos sobre trabalhos de casa ou tarefas domésticas. Não falámos sobre coisas
de filhos ou coisas de pais. Falámos sobre futebol, sobre comida, sobre cinema,
sobre o tempo e sobre a crise. Coisas de qualquer um, coisas de amigos, coisas
a dois.
Naquele nosso dia percorremos lojas de roupa e de
bugigangas. Comentámos cores e padrões, preços e tendências. Escolhemos juntos
um boné novo que o Tiago há tanto pedia e comprámos um verde, apesar de
indecisos entre esse e o cinzento. Esperamos a nossa vez na fila da farmácia e
decidimos, em simultâneo, o momento certo para voltar para casa.
Então, no primeiro degrau da escada rolante para o parque de
estacionamento, o Tiago, metade de mim vista do chão, pegou-me a mão e disse:
«Então, gostaste da nossa primeira saída a dois?»
Acho que sorri. Acho que respondi um sim de voz fugida rumo
aos olhos, reforçando a força da minha mão colada à dele, de coração cheio,
quase a rebentar, por uma emoção enorme, metade de mim desfeita em orgulho aos
pés dele.
Imaginei que, a partir dali, ele pegava na chave do carro e
me conduzia até casa, me guiava pela estrada e me abria a porta à chegada.
Imaginei que, já em casa, ele conseguiria pela primeira vez rodar por completa
a chave na porta da rua, que prepararia a sala para nos sentarmos e me
aconchegaria no sofá entre almofadas.
Na verdade, eu conduzi o carro no caminho, perscrutando-lhe
o rosto pelo retrovisor, como faço sempre. Eu abri a porta de casa, rodando a
chave automaticamente, como faço sempre. E eu preparei o sofá para nos
sentarmos os dois, entre almofadas, a ver televisão de ombros encostados, como
fazemos sempre. Lá pelo meio perguntei-lhe: «Estás contente com o boné novo?».
Ele respondeu-me, de imediato, sem tirar os olhos da televisão: «Eu não queria
assim tanto ir comprar o boné, eu queria era sair só contigo».
Daquele dia para a frente guardamos finais de tarde que são
só nossos, marcamos saídas a dois que mais do que tempo exclusivo de um filho
com a mãe, são momentos exclusivos de uma mãe com o seu rapaz crescido. Um
pouco mais de metade de mim em altura. O dobro de mim desdobrado e multiplicado
na maneira como sabe dar, e me ensina a dar, amor.