31 agosto 2010

Aos 31


Segundo um estudo britânico, cientificamente íntegro, é aos 31 anos de idade que a mulher atinge o auge da sua beleza. Em diversas fontes descobri que os 31 são a idade do sucesso, a altura da plena confiança, o momento em que todos os factores se reúnem para que se atinjam níveis elevados em todos os lados de uma mesma vida. Os 31 são apontados como a melhor idade da mulher e isso vai muito além da aparência, já que é neste preciso ano que se combinam na perfeição a confiança, o estilo e a personalidade. Uma idade assim traz maturidade e a experiência charme, fazendo-nos sentir melhor do que nunca, num expoente máximo de estilo e autoconfiança. Baseados em estatísticas, os entendidos defendem que as mulheres de 31 anos ainda não têm sinais de envelhecimento marcados e, ainda para mais, não estão tão preocupadas com a opinião de terceiros como as mais jovens, o que as torna mais confiantes.

A poucas horas de entrar nos 31 esta pesquisa simples, via google, abriu-me novas perspectivas para uma nova idade. Andava eu agarrada à expressão popular "Foi um trinta e um..." augurando más notícias, completamente absorta de tal realidade: afinal, não há aniversário como este!

Razões para celebrar há muitas: amanhã fico mais bonita, mais confiante, cheia de estilo, plena de personalidade, madura e experiente, sempre sem sinais de envelhecimento e ligando, cada vez menos, a opiniões de terceiros.

Há dúvidas? Falamos para o ano. Até lá vou aproveitar em pleno a melhor de todas as minhas idades: a próxima.




Ilustração - Holly Lanagan

28 agosto 2010

Uma canção e uma história #11

Uma canção que ninguém esperaria que eu gostasse



Ou duas canções que ninguém esperaria que eu gostasse



Ou outra canção que ninguém esperaria que eu ouvisse até ao fim sequer



Ou mais uma canção que ninguém esperaria que eu repetisse sem exaustão



Ou uma canção que ninguém adivinharia que eu conhecesse até



Ou uma canção que ninguém iria supor que eu saberia a letra de cor



Ou uma canção que ninguém sabe que é minha




Ou então todas as canções que alguém espera que eu goste

26 agosto 2010

Por acaso

nunca mais tinha pensado nisto, mas o Tigy queria uma fitinha vermelha para pôr no pulso e eu lá lhe expliquei a magia: "Pedes um desejo enquanto eu dou o nó e quando a fitinha partir o desejo realiza-se".

Ele escolheu as cores: vermelha para ele, azul para mim - "Tu gostas de azul, mãe!".
Ajustando a fita no braço ele confidenciou-me aquilo que pedia: "Quero uma caixa cheia de brinquedos...".

Por acaso acho que, quando a fita partir, o Tigy terá uma caixa de brinquedos nas mãos.
E por acaso lá pedi eu também os meus desejos. Provavelmente não devem realizar-se com tal facilidade e não deve é ser nada por acaso.

22 agosto 2010

Uma escolha e uma história #3

Um músico


Gosto dele em imagens mas gosto dele por causa das palavras. Gosto de o ouvir mas gosto de o ver enquanto o ouço. Gosto de sentir cada palavra dentro do tempo de cada som e gosto de cada som dentro do espaço de cada uma das suas palavras. É um músico completo: pelo que escreve, pelo que canta, pelo que é. Aos meus olhos, ao arrepio da minha pele: o melhor do momento. Tiago Bettencourt.


"Hoje, quando acordei no verão, o sol parecia brilhar com mais força. Foi difícil habituar-me depois de tanto tempo a dormir. Sim, depois de turvo o sol rompeu as nuvens e iluminou o mar tão cansado, mas limpo. Já ando a escrever sobre esta possibilidade há uns tempos, mas senti-la, vê-la, tocar-lhe? ...só hoje de corpo inteiro, à luz. Foi preciso a tempestade indicar-me o caminho até à minha praia, para me esconder as feridas, recolher-me o sangue. Foi preciso o meu grito fúria de braços altos e dedos esticados firmes, foi preciso esbracejar e pontapear e olhar de frente e sem poemas de amor para o espelho na água suja caída no chão.

Sim, é de amor que falo. Coisa grande em que se acredita em certas manhãs.

Ontem, de pés assentes em pedra fria perdi a inocência,

mas hoje, acredito em muito mais coisas."

in http://tiagobettencourtemantha.blogs.sapo.pt/

21 agosto 2010

Expressões (in)felizes

Aconteça o que acontecer

Uma canção e uma história #10

Uma canção do meu grupo favorito



Era feliz enquanto escrevia uma coluna num jornal regional a que chamei "Gritos de Juventude" onde a primeira crónica tinha o título "Adolescentes? Quem? Nós?" e onde falei de coisas como um Dia D, que inventaram na altura para alertar para as drogas; dos quatro canais que havia para ver na televisão; de outras tantas coisas que já nem lembro e cujas folhas de jornal se foram perdendo.

Era feliz todos os sábados de manhã a fazer um programa de rádio meio louco com quatro amigas da mesma idade, cheio da música que ouvíamos e das conversas que tínhamos, tanto no recreio do liceu como aos microfones naquelas duas horas.

Era feliz a dar catequese, explicando coisas que nem eu própria entendia ou até que jamais entenderei.

Era feliz a sós, a encher cadernos de histórias, acreditando que escrevia e que escrever seria sempre o rumo da minha vida.

Era feliz com os outros: os amigos da escola que hoje são adultos como eu, os professores que acreditavam mais em mim do que eu, a família que estava aqui ao meu lado como eu ao seu.


Tinha 16 anos e vivia a mais feliz das idades da minha vida. O futuro era imenso, ilimitado e nele cabiam todos os possíveis.

19 agosto 2010

Eu e o peixe



Na hora de partir de viagem amontoavam-se os sacos no pequeno corredor que leva à porta de saída. O saco da roupa, o saco dos sapatos, a mala do Tigy, a mochila dos livros, da música, das canetas e cadernos. Entre a casa a esvaziar e o carro a encher, pensam-se nas luzes que têm de ficar apagadas, na torneira da água a ser bem fechada, no gás para desligar. Lembra-se do carregador do telemóvel, que é coisa que fica sempre, e da garrafa de água para enfrentar os quilómetros de auto-estrada, numa tarde de tanto calor.
Entre os afazeres que antecipam três semanas longe de casa, e com a sala já na penumbra, olhei para o peixe alaranjado que acompanhava as minhas voltas por ali com as voltas dele dentro do pequeno aquário. "Meu Deus! Tenho de levar o peixe...", pensamento assustado a que se seguiu um outro: "Mas eu nunca peguei num peixe em toda a minha vida!".
Lá inventei um esquema infalível: enfiar o peixe dentro de um garrafão de água e escolher um canto para ele entre a tralha que enchia o carro, para que nem uma gota de água saltasse durante a viagem.

Ficámos alguns segundos a olhar-nos separados pelo vidro que lhe duplica o tamanho. O peixe e eu. À primeira tentativa de o agarrar o peixe mal tocou na minha mão... Plano B: o coador do leite. Ele bem que foi apanhado pela rede mas dela não saltou para dentro do garrafão, mas sim para o ralo do lava-louça, completamente seco. O peixe ali a lutar contra a falta de água, a bater com o rabo desesperado e eu mais aflita do que ele, a assistir a um fim certo. Num repente, fechei o lava-louça e abri a torneira e o peixe voltou a nadar, agora num aquário bem maior.

Ali fiquei: eu e o peixe, com o aquário vazio, o garrafão vazio, o coador do leite na mão vazio e a hora da viagem tão perto.
"-Por favor peixinho! Por favor peixinho!" - pedia-lhe eu, acompanhando com o coador as voltas apressadas do animal dentro do lava-louça da minha cozinha. Não foi à segunda, nem terceira, acho que nem à décima tentativa, mas numa das vezes o peixe apanhado pela rede improvisada entrou no gargalo do garrafão e ouviu-se "ploc" quando caiu na água.

Agora sim. Estava tudo. Eu e o peixe.

Olhando-o a nadar dentro daquela espécie de aquário de plástico, surgindo de quando em vez por trás do rótulo, o peixe parecia em pânico e eu, em completo alívio depois de tão árdua tarefa, lá lhe confessei:
"Que todos os meus problemas fossem enfiar peixes dentro de garrafões de água...".



Ilustração - Annie Wilkinson

18 agosto 2010

A guardar

«VER
- A diferença está no elemento em que pousas os pés. Se esse elemento balança ou não, isso é importante.
- Concordo.
- A decisão depende daquilo que podes ver, mas também da forma como vês.
- Percebo perfeitamente. Por isso é que, de entre os dois elementos - terra e mar-, eu escolho a terra. Tanto do mar como da terra posso ver. Mas da terra vejo com os pés firmes, sem balançar. Vejo com mais perfeição. Não tremo.
- Mas também há mares calmos.
- Sim, é certo - mas nunca são assim tão calmos.
- Tomar decisões em alto mar ou em terra firme, eis a questão.
- Mas a terra também nunca é assim tão firme. É esse o problema.»


in Crónica, Gonçalo M. Tavares, página 105, Máxima Junho 2010




Claro. Confuso. Intrigante.

16 agosto 2010

Foi então

que as várias mãos que remexiam a minha barriga redobraram os esforços e o arrancaram de dentro dela, dizendo:

"Bem vindo ao mundo Tigy!"

E eu olhei-o, semi-erguida da cama e encadeada pelas luzes fortes da sala, e sosseguei ouvindo-o, pela primeira vez, chorar.
Foi há cinco anos, neste dia.

Parabéns filhinho!

15 agosto 2010

Saber de mim?

Foram 3 semanas assim:

Com muito trabalho. Com aviões, aviadores, legendas, índices remissivos, emendas e, no fim de tudo, ao olhar o céu, até já sei distinguir um Boeing de um Airbus! E tudo teria sido bem mais complicado se não tivesse feito um novo amigo, que tira fotos espectaculares como esta:




Houve tempo para tudo.
Para sair à rua e ver teatro





Para ouvir esta voz brilhar cá de uma forma


Para lembrar como sabe bem passear pela cidade de transportes, sem pressa alguma, a rever sítios como estes






Para passar horas à conversa aqui

ou aqui


ou aqui

Para viajar até casa assim


e voltar a saborear bolachas americanas, na minha praia de sempre



Para ver o Porto ganhar



Para ver filmes como este





Para fazer bolos como sempre



Para deambular pelas lojas comprando aqui e ali





Para estar e falar e rir e aproveitar e gostar tanto das minhas pessoas, cujos rostos não preciso de colar aqui

Agora?

Agora quero três novas semanas cheias. Com férias, com areia, com mar, com livros, com tempo, com silêncio.

Mas abraçada ao melhor de mim...
Tigy, a Mamã tem muitas saudades tuas.

10 agosto 2010

De Deus ou dos Outros


Sempre me intrigaram expressões como "Ela não o fazia feliz..." ou "Ele não soube fazê-la feliz" ou ainda "Eles não se faziam felizes um ao outro". Aceitar que a nossa felicidade, ou a falta dela, é responsabilidade alheia é um bocado como a relação que sempre estabeleci com Deus. Acreditar em Deus é desresponsabilizarmo-nos do que quer que seja que façamos com as nossas vidas, é assumir que tudo o que vier de mau não é culpa nossa e que tudo o que obtivermos de bom também não é fruto do nosso querer. Tudo é apenas e somente obra de Deus. Pensar assim, ver a vida assim, é conseguir planar numa tranquilidade imensa, principalmente quando Deus é visto como um ser justo e infinitamente bom. Mas, quando para nos mostrar o melhor que há, Deus nos leva nos caminhos mais acidentados, aí começa e acaba a superioridade divina para começar a agir a vontade.

Por outro lado, também nunca foi imediato para mim que o mais importante é estarmos bem connosco, é sentirmo-nos felizes com o que somos de nós para nós, que primeiro vimos nós e depois o outro, seja ele quem for. A minha vida girou sempre à volta de eixos definidos: pessoas, metas, dias, lugares, ideias. Numa lista de coisas a cumprir que não deixava espaços para o percurso entre etapas. Quando falhava um passo, falhava a corrida. Quando escapava um elemento, acabava o grupo. Quando perdia uma batalha, desistia da guerra.

Há muito que debato comigo própria em que ponto vão as minhas relações com Deus. E ainda há mais tempo percebi que procuro sempre os meios errados por muito que os fins sejam os certos.

Há muito que tento reatar com o Deus superior, justo e bondoso, que escreve certo por linhas tortas.
Há muito que escolho demais para acertar cada vez menos.

Mas foi há pouco tempo que percebi que história é essa da felicidade que queremos não vir de ninguém, da felicidade que merecemos não ser obra do outro, nem ser obra de Deus. Ser uma obra nossa. E é essa que ando a começar agora.


Ilustração - Heather Barron

07 agosto 2010

Uma escolha e uma história #1

Uma actriz


Descobri-a aos poucos. Num filme português de um dos meus livros de sempre. Depois naquele palco. Ela. Só ela. De homem para homem. De actriz para mim. Num Domingo cinzento de um Inverno feio.
Ela personifica a melhor profissão do mundo dentro de um mundo circular e perfeito. Irradia humanidade. Verdade. Acredita-se nela mais do que na história. Sente-se por ela o que o texto não diz. Conta-se com ela quando a mentira começa e a descoberta acontece. Precisava de alguém assim para me lembrar que representar é o talento de alguns, dos especiais, dos que sabem fazer dele uma coisa mágica, fantástica, completamente única.
Para mim, aos meus olhos, ao arrepio da minha pele, ela é a melhor das actrizes do momento. Beatriz Batarda.




Foto - Carlos Ramos

05 agosto 2010

Uma canção e uma história #9

Uma canção que ajuda a adormecer





E o dia acaba tranquilo. Um ponto de equilíbrio.
O silêncio. A casa no escuro. O pensamento tão leve, tão solto, tão meu.
Aceita-se o que de mais negro ficou para trás. Deixa-se lá estar. Sem mexer, nem remexer. Sem segundas intenções ou terceiras interpretações. Sente-se apenas e somente o momento. Uma espécie de vento quente. Cócegas ao de leve, na barriga. Suspiros. Um dos melhores abraços de todos. Segredos ditos ao ouvido. A paz. Um rosto de felicidade.
Tudo ganha sentido. Do vivido ao imaginado. Do que se tem a tudo o que foi negado.
Completamente entregue ao sossego. Ao que de melhor tem a solidão. Um estar só por estar cheia de gente. Por estar cheia de mim por dentro.
E ganha-se esta paz. Esta e outra certeza. O que melhor pode ter a vida. Pouco mais do que isto. Pouco mais do que, finalmente, estar bem. Sentir-me mesmo tão bem.

Até amanhã.