31 maio 2006

A vida mais colorida


A vida anda nublada, talvez acinzentada ou mesmo a preto e branco sem variações. Por entre nuvens, entre um lamento cansativo e uma brecha de esperança, fica afinal aquilo que realmente importa. As causas da felicidade. O refúgio de todos os sentidos. A razão de tudo.

Porque a vida fica colorida quando...

... o Tigy gatinha...
arriscando prolongar a cama para além do colchão.
sujando os joelhos e as mãos ao lavar o soalho com a própria pele.
arrebitando o rabinho e entortando uma das pernas para dentro.

... o Tigy passa da posição de gatas para sentado...
soltando um sorriso, feliz por já ser capaz de fazer o que quer.
agarrando o primeiro objecto alheio que encontra.
agitando os braços com toda a genica, soltando gritinhos coordenados.

... o Tigy palra...
dizendo claramente "mamã".
soltando monossílabos como "pá" e "pé".
repetindo outros sons que se assemelham sempre a qualquer coisa.

... o Tigy acorda...
começando a trepar pela cama, surgindo depois a sua carinha a espreitar.
sorrindo de imediato, pedindo muito para saltar para a nossa cama.
lembrando que são 7 da manhã e que não importa o dia da semana.

... o Tigy está muito embirrento...
percorrendo todos os colos sem sucesso.
espalhando todos os brinquedos pela sala não querendo nenhum.
abrindo muito a boca num lamento e mostrando mais dois dentes a romper.

... o Tigy toma banho...
querendo fazer acrobacias perigosas como levantar-se sozinho na banheira.
tentando agarrar no gel de banho para fazer sabe-se lá o quê.
atirando o máximo de água que consegue para o chão.

...o Tigy come...
abrindo muito a boca seja sopa de carne ou de peixe.
fazendo "brrrrrrrr" com os lábios mesmo com a boca cheia de papa.
chorando quando me vê a arrumar a colher no lava-louça.

... o Tigy faz asneiras...
lambuzando e trincando o telemóvel do pai avariando-o para sempre.
arrancando teclas do computador da mãe complicando a colocação de pontos e dois pontos
mordendo quando nos apanha distraídos.

... o Tigy adormece...
deixando o rabinho para o ar bem encolhido.
mexendo os lábios constantemente como se ainda mamasse.
deixando um silêncio de fim de dia que também sabe bem.
Muito bem.

23 maio 2006

O susto


Hoje o meu filho, com apenas 9 meses, fez-me passar uma grande vergonha.
Uma banal ida aos correios, para levantar uma carta registada, transformou-se no primeiro grande susto da vida do Tigy e no primeiro grande embaraço da mamã Beguinha.
À nossa frente, na fila, estava um senhor. Já não era novo, nem era propriamente bonito. Mas era simpático e quis mostrá-lo... ao bebé errado, no momento errado. O tal senhor usava uns óculos grossos, de massa pretos e, a cobrir-lhe quase por completo o rosto, ostentava uma grandiosa barba branca, com algumas manchas cinzentas. Uma barba daquelas que tapam a boca e as bochechas, aproximando-se das orelhas e dos olhos.
Ao primeiro gesto do senhor, em direcção à carinha do Tigy, para lhe fazer uma festa, o rapaz desata numa gritaria, começando a mudar de cor. Vermelho, quase roxo, o Tigy gritou, chorou, esperneou, e toda a gente que ria dentro da estação dos correios percebeu, incluindo o próprio, que o bebé teve medo do velhinho simpático.
A mãe - eu mesma - também de cor mudada, não sabia bem onde me meter e lá teve o senhor de me deixar passar à frente, lá comentaram todos o sucedido e lá saí eu com o filho aos gritos, a carta na mão, deixando para trás um velhinho decidido a cortar a barba ainda esta noite. De certeza.

14 maio 2006

Coisas dele




As minhas visitas deixaram-me uns presentes e eu, que gosto de as cuidar, retribuo com as minhas palavras.

As manias do Tigy - O presente do Docinho cor-de-rosa

“Regulamento: Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias de seu filho, hábitos muito pessoais que o diferencie do comum dos mortais. E, além de dar o conhecimento dessas particularidades, tem de escolher outros cinco bloguistas para entrarem igualmente no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogs o aviso do recrutamento. Ademais, cada participante deve reproduzir este regulamento no seu blog.”

O Tigy tem a mania de...

1ª - fazer (literalmente) a ponte com a cabeça e os calcanhares, arqueando as costas e dobrando bem o pescoço. É uma mania aflitiva que deixa os pais à beira de um ataque de nervos, assim como as educadoras na creche e, até, a própria pediatra quando a visitamos. E eu sempre a repetir: o Tigy vai para o circo!

2ª - encolher o nariz, como se fosse um coelhinho, fazendo um som característico e tudo.

3ª - esfregar os olhos e quase arrancar as próprias orelhas quando está com sono.

4ª - roer o comando da televisão e os telemóveis, arrancar páginas de revistas e jornais, ou seja, estragar o que encontra à mão.

5ª - soltar gargalhadas quando a brincadeira lhe agrada, principalmente se inclui cócegas e gritinhos.

Coisas dele e minhas - O presente da Boca doce

O que a mamã fazia há 10 anos atrás: Andava no liceu, cheia de sonhos e de futuro.

O que andava a fazer o ano passado: Acabava de regressar de lua-de-mel e vivia deslumbrada com a sua barriga de 5 meses.

5 heranças da mamã: Os olhos, o tom de pele, uma mancha na perna, muitos mimos, algumas birras.

5 heranças do papá: O cabelo, o formato do rosto, a energia, a rebeldia... o sexo (!?).

5 snacks do Tigy: sopinha de carne, sopinha de peixe, iogurtes, papinhas e fruta moída com vários sabores.

5 brinquedos favoritos: o comando, o telemóvel, a fralda, a caixa dos toalhetes e a caixa dos óculos do pai.

5 coisas que não gosta: andar sossegadinho na cadeira do carro, pôr o cinto na cadeira de comer, vestir depois do banho, dormir muito e estar sózinho a brincar.

5 coisas que não percebe ou não quer perceber: que a comida dos papás não é para ele, que é bom dormir, que a mamã quer ver televisão sem ele estar sempre a mudar de canal, que o telemóvel não pode ser atirado para o chão como ele faz e que não dá para ler revistas todas rasgadas.

Desafio todos os que se sentirem desafiados.

06 maio 2006

A festa do Tigy (quase ausente)

O dia mostrou-se sorridente. Cheio de sol e de expectativas. Tal como há um ano atrás... Quando os pais, vestidos de noivos, receberam os mesmo rostos para um momento só deles. Agora, o dia era do Tigy ou dos pais para ele.

Acordou com febre, com birras, com dentes a aparecer, com um sono constante e sem qualquer espécie de vontade de ir para uma festa. Mesmo que fosse a dele.
Chegaram os amigos, a fotógrafa. Vestiu-se o bebé de traje de gala e sandália de Verão. Juntou-se a família para as fotografias, mas o anfitrião não queria flashes, naquele dia. No adro da igreja, aguardavam todos os convidados pelo Tigy enérgico e divertido, de sempre. Mas ele não foi. Durante o baptizado, manteve-se adormecido no colo imperturbável do avô, uma espécie de refúgio como este. Mas onde não são precisas palavras ou desenhos, comentários ou demasiadas explicações. Basta enrolar os braços, embalá-los, suavemente, e deixar ficar...
A água que correu a cabeça e molhou o cabelo desatou o choro, o mesmo que findou com o rezar lento e trauteado do Pai Nosso.
Ficou o Tigy mais acompanhado, parte de uma Igreja que conduz, que une, que concilia, quem quer, quem acredita, quem merece. Talvez!

No palco da festa, distribuíram-se lugares à mesa retratando as salinhas dos infantários. Assim estiveram presentes...

os macaquinhos, amigos e familiares do papá,
que partilharam a mesa com ele e com a mamã, deixando vago o lugar do Tigy adormecido.


os gatinhos, onde estavam os bisavós do Tigy, que gostaram tanto de estar no seu baptizado e que gostariam tanto de assistir ao seu casamento.


os patinhos, amigos da mamã, com quem se partilham tantos anos de convívio, vendo casamentos e nascimentos, aniversários e outros festejos assim, sempre sem saber como é que o tempo passa tão depressa...



as ovelhinhas, cujo rebanho era composto por amigos da mamã de tanto passado e com tanto futuro e, especialmente, pela madrinha do Tigy, a minha mana, que delineou a festa comigo ao longo destes últimos meses.

os pintainhos, o grupo amarelinho das minhas amigas (e seus pares) da casa amarela e da vida em todas as cores.


os cachorrinhos, ou seja, os avós maternos do Tigy e uns amigos deles que são também nossos. Inabalavelmente.


os sapinhos, onde estavam os pais do papá e outros familiares, como que sentados à beira de um riacho sossegado.



os coelhinhos, o grupo de amigos dos meus pais, sempre presentes como supõe a palavra amizade.


e os ursinhos, as minhas pessoas de sempre, que dizem que sim, que comparecem e que me seguem a vida com alegria. Como eu sigo a delas.

Mesmo com o Tigy sem sorrisos para a fotografia, a festa reuniu quem fazia falta nela, quem seguiu os primeiros meses de vida do meu bebé com carinho e dedicação, aquela que coloquei em cada detalhe, a mesma que senti nas palavras escritas e nos traços desenhados, à mesa, nos envelopes fechados deixados na caixa para o Tigy abrir, um dia mais tarde. Porque junto a cada prato estava um envelope e uma folha de carta para que cada convidado deixasse umas palavras ou uns desenhos para o Tigy. Trouxe a mamã a caixa cheia para casa. Inesperadamente. Agradavelmente.

Antes das despedidas e por entre papel de embrulho rasgado, algumas conversas postas em dia e aquele sabor a pouco que fica nas festas especiais, ficou a lembrança para os convidados. A mamã agradece às meninas talentosas do "Sei lá de mil cores" pela ajuda!

Passada uma semana, o Tigy está melhor. Afinal, eram dois dentes a nascer, tudo misturado com uma virose esquisita, que lhe cobriu o corpo de borbulhas vermelhas, nos dias seguintes. Houve até um deles em que a mamã ficou em casa com o bebé e em que se sentiu o mesmo cheiro e o mesmo sabor dos meses em que vivíamos assim: os dois, em casa.

Aos presentes, muito muito obrigada!