08 agosto 2013

06 agosto 2013

Coisas das saudades



As saudades cheiram a espuma do banho. Têm a cor da tua pele, da marca dos calções da praia a meio da coxa. Sabem a bolachas com pepitas de chocolate espalhadas no sofá, entre as almofadas da sala, nas juntas dos mosaicos do chão.

As minhas saudades são feitas de abraços, de beijos lambuzados pelas tuas bochechas e pelas tuas mãos - pequeninas, redondas, morenas. As saudades cantarolam comigo os genéricos dos programas que vês no teu canal da tv.
Fazem-me rir com algumas frases disparatadas. Apertam o peito numa falta sem fim. Lembram momentos maus, de confitos e ralhetes, de birras e choros.

As saudades tornam-me refém dos castigos, das palavras erradas nos momentos incertos. As saudades chegam e minam tudo ao redor. Pesam no silêncio. Nos ombros ou no colo. Falam baixinho junto ao ouvido. Fazem cócegas no pescoço. Ficam.

As saudades de hoje querem-te bem. A aproveitar os dias como se fossem únicos. A viajar comigo mesmo longe, deste lado do mar.
As saudades amanhã serão piores. Falarão mais alto, soprando-me nos cabelos e abrindo-me os olhos à força.

Não há nada pior do que temer as saudades. Não as deixar chegar... não as dizer.
Depois, quando voares, quando voltares, as saudades serão lembrança e as saudades serão vontade... de as matar.


Ilustração