20 dezembro 2012

20 coisas que eu quero que o meu filho saiba até ao Natal

#9

Ontem, depois da reunião de final do trimestre do Tiago - com boas notas e bons prenúncios para o resto do ano - fui até uma Instituição de Solidariedade Social passar algum tempo com as crianças, numa iniciativa natalícia que se espera repetida por 2013 adiante.

As crianças, as instalações, as pessoas, nada têm a ver com a escola onde o Tiago anda: escassos 4 ou 5 quilómetros de distância conseguem transformar-se em centenas em diferenças sociais e culturais.
Há na mesma cidade escolas diferentes para crianças que se querem iguais.

Ali, crianças que mal completaram uma dezena de anos de vida, rodeiam as suas conversas de considerações adultas e tudo o que dizem começa e acaba em conotações sexuais, sobre as façanhas da escola ou a orientação dos colegas. A desvalorização do ser criança é algo que, ultimamente, me tem ocupado o pensamento, em coisas que vejo, que ouço, que sinto. Cada vez as crianças são crianças menos tempo e deixam de o ser mais cedo, num apressar do tempo que não volta mesmo. Como se, para elas, ser criança fosse uma ofensa, fosse um desprestígio.

O Tiago, hoje, não sabe o que é ser g-a-i (como ontem soletrava uma das crianças da escola a que fui, apontando o dedo a um menino do lado), mas com certeza saberá em breve. E, conviva-se bem ou mal com isso, usar uma etiqueta para colar no rosto dos outros não deverá ser a melhor das resoluções futuras.
O Tiago, hoje, também não usa a palavra “sexo” em todos os contextos (numa tentativa triste de parecerem o que não são, dentro de corpos pequenos que se agigantam perante a palavra), como vi ontem, naquelas crianças, mas pode vir a usar.

A inocência que vejo diariamente no Tiago – uma autêntica criança de 7 anos como tantas que conheço da escola dele – contrasta com o diálogo malicioso e provocador dos meninos que ontem conheci. Os mesmos que nunca saberão o tempo maravilhoso que perderam imbuídos no melhor que tem a ingenuidade, o “não saber”, o estar simplesmente a ser e a viver como criança. E tudo isso não volta mesmo: o tempo, a inocência, a liberdade, bens vitais que não deviam estar vincados a um bairro, a uma família, a uma escola.

O Tiago, fã convicto desde sempre da história do Peter Pan, entenderá, mais tarde, porque não queria ele crescer, quando recordar com saudade o tempo em que foi criança, em que viveu como criança, em que foi simplesmente pequeno. Todos nós, adultos, perante as contas, as dificuldades, os atritos, as dores de cabeça da rotina, o entendemos também.
Eu, mãe do Tiago, tudo faço para lhe prolongar a infância. Eu, enquanto estranha naquela escola de ontem, apenas posso sorrir enquanto juntos fazemos jardinagem ou jogamos às cartas. E sei que este “apenas” pode ser bastante, pode ser quase tudo. Para que um dia também eles entendam melhor o segredo do Peter Pan.





* Agora entendes porque o Peter Pan não queria crescer.

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