11 dezembro 2012

20 coisas que eu quero que o meu filho saiba até ao Natal

#3

Sempre me lembro de mim a ler, com livros debaixo do braço, com livros no quarto, na mesa junto à cama, misturados na secretária com os manuais e os cadernos da escola. Sempre me lembro de mim a viver a minha vida projetada na vida das personagens dos livros, a querer algumas coisas delas e a querer que elas, às páginas tantas, também tivessem coisas minhas... Numa esquizofrenia própria de um tempo sem limites e sem impossíveis.

A minha rotina de mãe & filho contempla aqueles minutos em que o Tiago, já debaixo dos cobertores, ouve a história do dia, muitas vezes a mesma da noite anterior, escutada em silêncio como se fosse a primeira vez ou, então, capaz de suscitar a mesma dúvida no mesmo trecho da leitura do dia de antes.
O Tiago sabe que livros eu leio. Conhece-os pela capa, comenta a grossura da lombada, folheia-os muitas vezes, rouba o marcador e coloca na página errada. O Tiago vive os livros à maneira dele e eu vivo com ele aquilo que me pede para lhe ler.

Há poucos dias perguntou se lhe dava 5 euros. Questionei para que precisava do dinheiro e ele contou que queria comprar um livro na feira da escola. Explicou-me o que tinha gostado no livro e acrescentou que havia outro mais barato mas ele gostava era daquele. A falta que aqueles 5 euros me faziam, naquela semana em particular, desvaneceu-se nas noites seguintes, quando juntos lemos a história do Sr. Azulão, que vive debaixo da cama do João, a mesma cama que se vai enchendo de visitantes que viviam escondidos nas gavetas, no roupeiro e até atrás das cortinas do quarto, fazendo com que o João, naquela noite, até durma no chão com a cama dele cheia de amigos desconhecidos.

A história, inesperada para mim e para o Tiago, intrigou-o a ele pelos bichos esquisitos, de nomes engraçados, que o João descobria entre a tralha do seu próprio quarto.
A mim desafiou-me:
Recordando-me de mim, pequena, a descobrir personagens dos livros que lia escondidas comigo entre as estantes e as gavetas do quarto, como amigos íntimos, como cúmplices, como partes reais de uma realidade paralela.
Vendo-me agora, como Mãe, a contagiar o Tiago com o vício dos livros, a passar para ele a magia que têm as histórias e o poder que tem a leitura, a deixá-lo inebriado pelo mundo alternativo que somos capazes de alcançar apenas abrindo um livro.

Noite após noite, os livros têm, devagarinho, passado das minhas mãos para as mãos dele, alternando a minha voz com a dele - ele lê um pedaço e eu leio outro, ele vira uma página e eu viro outra... e, noite após noite, ler será cada vez mais uma coisa dele, para deixar de ser um hábito nosso.

E eu assisto, maravilhada, a tal transformação, apenas desejando que ele com os livros seja relação que permaneça, enquanto eu, Mãe-Leitora, vou lembrando o Tiago que:




* Rapazes que leem são atraentes

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