15 maio 2010

Dizer que não



Nunca foi coisa que eu soubesse fazer. Nem bem nem mal. Simplesmente nunca soube dizer que não.
Quando via tinha dito que sim ou nem tinha dito nada e, seguindo o princípio de que quem cala consente, o mal estava feito. Aprendi mais depressa a fugir às perguntas para fugir à resposta. À única possível. Ao inevitável não. Quando não sobravam talvez ou "fica para depois".

Senti sempre falta dessa capacidade, da linha ténue que divide uma recusa de uma ofensa. Entendi sempre que dizer que não era fazer mal, era ficar aquém, era afastar alguém, era perder algo ou algum momento. E tudo isso era irrecuperável, um único não conseguiria levar de mim para sempre um tempo inteiro de possibilidades.
Consegui, até, durante anos e anos culpar-me dos dois ou três nãos que disse na vida, colocar neles a causa e o fim de todas as desgraças.

O não indo de mim para qualquer lado era coisa terrível, era bala atirada que me matava por dentro. O não vindo dos outros para a minha vida era atitude sincera, era apenas a resposta acertada.

No último Natal a minha Mãe ofereceu cá para casa o livro "Um bom pai diz não". Ainda não o li. Está guardado na gaveta de baixo, lá no quarto, há vários meses. Não sei se é coisa que se aprenda, não sei se vou a tempo sequer, mas estou a pensar abrir o livro e perdoar-me. Por um não.



Ilustração - Bett

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