30 dezembro 2010

Uma canção e uma história
#A retrospectiva

Eram 20 os desafios num desafio só: escolher músicas para momentos, para estados de alma, para reacções ou para recordações.

Ironicamente, enquanto a minha vida mudava, eu olhava para trás, ou olhava para dentro, e procurava por entre tantos sons, o ritmo certo para as 20 questões.

Em oito meses foram 20 as respostas, numa tentativa sempre frustrada de encontrar a melhor banda sonora para a mais complicada das histórias, que é sempre a nossa.

Então, daqui até lá atrás:

Ouvi Regina Spektor em “Us” e mostrei porque um ano pode começar quando nós decidirmos. A música do último ano, banda-sonora de um filme viciante, toque definido no telemóvel, som contagiante no ouvido.

Ouvi Julie Andrews na minha parte preferida do filme “Música no Coração”, quando todos juntos falam das suas coisas favoritas. Uma canção que só me pode fazer rir e lembrar como coisas tão pequeninas podem preencher os maiores vazios e como são precisamente essas as melhores coisas da vida.

Ouvi Donna Maria numa versão de “Bem-vindo ao Passado”, um original dos GNR, carregado de despedidas e de amarguras, de pecados e arrependimentos, num sincopado ritmo que chega a ser tenebroso. Falei então de um tema complicado, negro, sempre ignorado como se não existisse. Simples de mais para mim.

Ouvi Adriana Calcanhotto na mais repetidas das suas canções, num encadeamento saboroso de frases que adoçaram uma das fases mais tranquilas da minha vida. Agora, usei-a para falar do meu casamento, de como também ele teve tudo isso, todo esse doce e suave e completo, e como o mais certo é guardar sempre o que houve de bom.

Ouvi Diana Krall na mais perfeita das canções, um dos meus maiores vícios, uma das músicas que considero minhas, coladas à pele. E com ela falei da tristeza, da ferida que sangra e nunca se cura, numa espécie de marca ou modo de vida, como se a tivesse adoptado como tatuagem a marcar o corpo, como traço de personalidade a tingir o pensamento, como decisão de futuro, como parte do destino. Mesmo que doa...

Ouvi Smiths na mais fantástica das suas canções. Aquela que tem a frase "to die by your side is just an heavenly way to die" (Morria para ouvir isto...). Coisa em que só se acredita quando estamos rodeados de felicidade e não nos lembramos que, mesmo a mais perfeita das histórias, pode não acabar com “e viveram felizes para sempre”.

Ouvi My Chemical Romance em gritos de raiva e angústia, o tema certo para momentos de zanga, apropriada para os dias em que vivemos zangados com o mundo, do acordar até ao adormecer.

Ouvi Tiago Bettencourt com a canção "O jogo" uma das predilectas do meu álbum preferido "O Jardim". Dele era capaz de roubar uma frase de cada música, como se ela fosse feita especialmente para mim, e depois construir várias histórias ou juntar todas numa só. Na verdadeira. Aquela que é tão minha que eu não sei mesmo largar.

Ouvi Carlos do Carmo com a "Estrela da Tarde", uma letra profundamente bem escrita, como quase já não se faz, da autoria de Ary dos Santos, e que me descreve. A mim e a este confuso ziguezague que não deixa saber se, afinal, "tu és a alegria ou se és a tristeza".

Ouvi Placebo em várias faixas a rodar em alto volume, tons elevados que ninguém esperaria que eu gostasse. Ou talvez nem todos os ninguéns.

Ouvi GNR um dos meus grupos preferidos da adolescência e, com “Sub16”, lembrei como era uma miúda destemida, confiante, sonhadora e irreal nesses tempos. Mas feliz.

Ouvi Sara Tavares com o seu "Ponto de luz", uma música suave e delicada, uma peça preciosa, um ponto de equilíbrio, o som ideal para adormecer tranquilamente.

Ouvi Cher e "Strong enough", uma canção para dançar, cheia de energia, que me fez falar de como nunca somos suficientemente fortes, ou suficientemente perfeitos, e como entre aprender e merecer, se vai acertando.

Ouvi Caetano Veloso com os seus "Sonhos" a canção que me faz lembrar um momento bonito, inteiramente só meu, nunca partilhado, nunca confessado. Um momento ideal de que consigo ter muitas saudades.

Ouvi Rui Veloso e as "Regras da Sensatez", o tema que me faz lembrar o lugar que é este blogue, o tema para anunciar uma mudança grande na minha vida, para memorizar que voltar ao lugar onde se foi feliz pode trazer um alto preço a pagar.

Ouvi Pedro Abrunhosa e "Eu e tu somos iguais", a música que imediatamente me lembra uma pessoa, ele próprio, o autor, o intérprete, aquele que um dia conheci e me mudou para sempre. Nem ele nem eu saberemos algum dia quanto.

Ouvi Mariza e "Duas lágrimas de orvalho". Uma canção que me põe triste. Profundamente triste. Triste de verdade, que chega a doer no peito enquanto ela canta. Triste mesmo.

Ouvi Sérgio Godinho e "O Primeiro dia", a música que me faz feliz ao lembrar uma das amigas de sempre, com quem partilhei as mais fabulosas das idades e as primeiras aventuras. Inesquecível.

Ouvi Delfins e "Aquele inverno", uma canção que soa bem e que vem lá de trás, de tempos bons, mas que podia ser mais qualquer coisa.

Ouvi Mafalda Veiga. Como é que uma canção que diz "há sempre uma maneira de recomeçar o que se quiser" não pode ser uma das favoritas de sempre?
E nunca precisei tanto de acreditar nisso.


Venham novos 20 desafios. Estes souberam-me tão bem...

2 comentários:

SombrArredia disse...

...e saber que eu e tu "nos conhecemos" por causa duma terceira pessoa, essa que nunca saberá disso :)

SombrArredia disse...

...e foste tu que me "despertaste" prá Mafalda V.
Ainda guardo o que me ofereceste dela.
Obrigada