01 novembro 2010

Uma escolha e uma história #4

Um livro




«Foi o momento mais feliz da minha vida, embora então eu não tivesse consciência disso. Se o tivesse sabido, se tivesse apreciado essa dádiva, teriam as coisas terminado de outra forma? Sim, se eu tivesse reconhecido esse instante de felicidade perfeita, tê-lo ia conservado sem nunca o deixar escapar.»

Assim começa a história. Um presságio. Um percurso. NADANDO DE COSTAS contra a corrente. Uma impossibilidade: parar o TEMPO, congelar um momento, por breve que seja, e não mais avançar a partir dali. O QUE É ISTO?
Determo-nos num instante feliz? Chegar para uma vida toda umas escassas horas? Uns curtos segundos, desde que juntos transformem uma banalidade em O MOMENTO MAIS FELIZ DA MINHA VIDA?
Percebe-se, assim, como aquele "instante de felicidade perfeita" até pode esconder ALGUMAS DESAGRADÁVEIS VERDADES ANTROPOLÓGICAS, ou CÍUMES, ou A AGONIA DA ESPERA, ou A FESTA DO SACRIFÍCIO. Mas, dentro daquele momento cabem AS RUAS, PONTES, COLINAS E PRAÇAS de qualquer lugar, cabem BEIJOS NA BOCA, CHUVA DE VERÃO, A FELICIDADE E AS LUZES DA CIDADE onde moramos. A partir dali, quando ficamos presos a um pequeno espaço de tempo onde coube toda e qualquer idealização, sabemos que O MAIS IMPORTANTE NA VIDA É SERMOS FELIZES e SER FELIZ É ESTAR PERTO DE QUEM SE AMA, APENAS ISSO. Depois de tal descoberta, POR ESTA ALTURA, PRATICAMENTE NÃO HAVIA UM MOMENTO EM QUE EU NÃO PENSASSE NELA. Na ideia da felicidade perfeita.

Então, procuramos o AMOR, CORAGEM, MODERNIDADE para estender infinitamente aquele momento. Insistimos que UM FILME SOBRE A VIDA E A AGONIA DEVERIA SER SINCERO e tornamo-nos COLECCIONADORES de uma memória apenas, dentro de O MUSEU DA INOCÊNCIA que nos faz acreditar que, POR VEZES, PARA AJUDAR A PASSAR O TEMPO, é bom OLHAR para trás, para o que houve de melhor, para DISTRACÇÕES VULGARES que povoam A CASA VAZIA ou justificam VIDAS DESTRUÍDAS.

TAMBÉM A VIDA É TAL E QUAL O AMOR.
Dentro da MELANCOLIA DO OUTONO e de OS FRIOS E SOLITÁRIOS DIAS DE NOVEMBRO há espaço para SILÊNCIO e uma ou outra CONFISSÃO. AGORA A MINHA VIDA DEPENDE INTEIRAMENTE DE TI, de UM MAPA ANATÓMICO DAS DORES DO AMOR ainda por seguir, o tal que nos levará a uma VIAGEM A UM OUTRO MUNDO, que nos ajudará a reunir AS PRIMEIRAS SEMENTES DA MINHA COLECÇÃO. Procurando, como UM CÃO NO ESPAÇO, explicações, razões, O CONSOLO DOS OBJECTOS. Ouvimos pessoas com avisos como NÃO TE INCLINES DESSA MANEIRA, PODES CAIR ou ignoramos quando falam SOBRE A INCAPACIDADE DE ME LEVANTAR E SAIR. Afinal, formas mascaradas de ALIMENTAR UMA PEQUENA ESPERANÇA QUE ALIVIA O MEU CORAÇÃO MAGOADO.

Depois de se conhecer a FELICIDADE, e por muito que vamos repetindo ESTA É A ULTIMA VEZ QUE A VEJO, somos impelidos a PASSAR PELA CENSURA dos nossos próprios receios e a admitir que UM CORAÇÃO PARTIDO E INDIGNADO NÃO SERVE DE NADA A NINGUÉM.



Nota - As frases a maiúsculas correspondem a alguns dos títulos fantásticos que Orhan Pamuk deu aos 83 capítulos deste livro.

1 comentário:

R disse...

Bem Beguinha, nada mais a acrescentar ...