30 outubro 2010

Tudo para dar certo





Houve uma idade lá para trás em que tudo corria bem. Eu tinha tudo para dar certo. Pensava, fazia por e... acontecia. Parecia fácil. Impossível de dar mal. Quase magia.
Estão dentro dessa época os melhores momentos de todos, vêm desses tempos as pessoas mais genuínas que tenho, ficaram nesses anos todas as certezas inabaláveis que trouxe comigo e quase todas as possibilidades.
Sim, tudo podia dar certo. Dali para a frente seria um folhear de bons acontecimentos, objectivos atrás de objectivos para riscar das minhas listas infinitas, um justo receber de tudo a que tinha pleno direito.
Até ter crescido.

Foi quando percebi que nem tudo depende de nós. Que nem tudo o que recebemos vem do que damos. Que nem todos os esforços merecem recompensas, que nem todas as recompensas chegam com embrulhos brilhantes e laços coloridos, dos braços de alguém com um sorriso. Que para chegar a qualquer lado é preciso atravessar uma quantas curvas e, no fim do caminho, o "qualquer lado" pode estar precisamente no inverso do ponto de partida.

Eu já fui, realmente, muito diferente do que sou. Já fui muito confiante, cheia de mim, sem medo da verdade, sem hesitações e desprovida de grandes dúvidas. E lembrar tudo isso, espelhado em pequenos episódios, é aceitar que a idade nos torna bem mais complicados e que nem tudo é culpa de um destino injusto ou de decisões ao lado ou, muito menos, de outrém.

Nos últimos dias, três pessoas diferentes me fizeram a mesma pergunta: "Quando foi que mudaste?".
A todas comecei pelo "Não sei", para acabar num rol de acontecimentos, acasos ou escolhas que me trouxeram a este ponto, ao preciso instante do que vivo. A todas desfiei umas quantas frases inacabadas e atirei com uns quantos nomes, num intrincado jogo de tentativas falhadas de explicar por outras palavras o que não se quer admitir numa palavra só.

Mas acho que às três tentativas de resposta, às três vezes que ouvi a mesma pergunta, me esqueci de dizer três vezes uma mesma frase:
"Não me arrependo de nada
Não me arrependo de nada
Não me arrependo de nada".

E, por muito que seja a única, ainda é a certeza que norteia tudo isto: dias de chuva, dias comigo, dias assim, em que até posso pensar que já não tenho tudo para dar certo, mas que ainda há qualquer coisa certa para valer isto tudo.


4 comentários:

DORA disse...

Seu blog e muito lindo....
adorei....
espero ter contato com vc pelos blogs.
o meu e http://doranef@blogspot.com

Unknown disse...

é mais o menos assim que estou hoje, a diferença é que a cama não anda por estes lados...

Anónimo disse...

De repente parecia que estavas a dar voz aos meus pensamentos...
Adoro os teus textos, mesmo! Bjs

Anónimo disse...

Thanks :)
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