Às vezes até já acordamos zangados.
Zangados com o tempo que está muito quente ou que está muita chuva ou que está vento ou muito sol. Zangados com a rotina, com a água do banho que não sai a escaldar, com o autoclismo que deu em pingar, com a roupa mal arrumada, com as calças que se queriam vestir e ainda estão por passar.
Zangados com o pão que não há para o pequeno-almoço, com o leite que se vira ao inclinar a chávena, com a chave que não se encontra para trancar a porta. Zangados com o carro que não pega, com a falta de estacionamento perto do portão da escola, com o trânsito, com as curvas, com os buracos do piso, com os limites de velocidade, com as playlists da rádio, com o atraso de 3 minutos ao picar o cartão.
Zangados com o dia que não passa, com as frases que não saem, com as pessoas que não se querem aturar, com as pessoas que não falam, com as outras que falam demais, com as pessoas que encontramos, com as outras que não aparecem sequer.
Zangados com a manhã a acabar, com a falta de apetite para o almoço, com o café que sabe mal e se bebe sempre. Zangados com a tarde ser longa, com o sono que dá depois da pausa, com o trabalho que falta fazer e o que falta fazer e que dá trabalho.
Zangados com o tempo a conduzir até casa, com a casa vazia à chegada, com o pacote da manteiga sem nada dentro do frigorífico, com a pouca vontade para cozinhar, com o raio do apetite que chegou todo ao mesmo tempo, com a falta de escolhas na tv, com a internet tão lenta, com o sono que não chega, com a cama que não aquece, com a noite que não encolhe...
Às vezes adormecemos zangados.
2 comentários:
É só às vezes Beguinha, outras damos graças por todas as pequeninas grandes coisas que temos, o acordar, o adormecer, o termos trabalho, o estar vivas, os filhos, os pais, os amigos, ... é só às vezes, até porque também temos esse direito:)
Gosto bastante da tua escrita. Acho que te estás a perder no "bunker" (aliás, estamos todos). Já te tinha dito?...
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