03 novembro 2005

Visita à doutora, mamã sem abrigo e outras histórias em dia de chuva


Uma ida à pediatra é, sempre, uma manhã de stress. O Tigy não está habituado a correrias, a saída com horário, ao trânsito da manhã, também a alguma falta de paciência do pai e a alguma impavidez da mãe. Ultrapassada a cidade em dia de chuva, o Tigy e o pai deliciaram-se com a estreia do canguru - os dois de gabardine, enfrentando o tempo num dia cinzento - juntos, quase colados, partilhando o pulsar da pressa, juntamente com os remoinhos do cabelo, a forma do rosto, sabe-se lá que mais parecenças ou segredos... Eu, no meu passo menos apressado, pensava nisto tal qual como o escrevo agora.
A consulta teve o registo do aumento de peso, o crescimento da cabecinha e de todo o corpo, teve alguma choradeira até. No final de tudo soube-se que o Tigy está de perfeita saúde e, em breve, irá provar a sua primeira papa.
Depois, continua o dia... Um dos de chuva que quase sempre traz momentos de nostalgia. Principalmente quando se tem tempo a sós, resguardada no sono do bebé, no silêncio da tv, numa vontade de dizer muito sem revelar nada. A distância começou a ter para mim um significado completamente novo desde que o Tigy ganhou forma, peso e pulsação dentro da minha barriga. Agora, a viver a sua vida, a respirar o seu ar, a sentir a sua pele, a descobrir o seu mundo... essa distância tem-se revelado quase insuportável. Olhar para ele, para nós dois nos nossos dias muito iguais, ganha, vezes demais, um sabor a tristeza que se funde com a felicidade grandiosa e inqualificável de o ter, de o amar. Partilhar tudo isto, com quem eu queria, diariamente, atentamente, presentemente, de forma real, palpável, certa, revesteria toda esta paixão com uma leveza que não lhe consigo dar, agora. E é assim, no momento da vida em que me devia sentir mais crescida, um núcleo de protecção e de força para o meu bebé, que me sinto mais frágil, mais incapaz, mais menina, mais saudosa, mais perdida. O peito acaba por não sustentar todo o ar e, às vezes, há coisas que têm de sair pelos olhos!
O melhor de tudo é perceber que nada na vida é comparável ao meu bebé: ao seu sono tranquilo, ao seu despertar mimado, às suas exigências singelas, à sua agitação divertida. E nada do que vivi, para trás, é comparável a este papel de mãe: ao meu sorriso embevecido, à minha preocupação constante, ao meu medo infundado, até à minha fragilidade imensa. Tudo isto, misturado com o pânico de ver o tempo passar e de sentir que estes dias assim, mesmo a dois, irão acabar. E a partir daí nada será como antes.

7 comentários:

Anónimo disse...

Como eu te compreendo, amiga. Bjs

sombra_arredia disse...

Foi uma delícia ler este teu texto :)
Tá de uma doçura infinita *
Beijinho*

Anónimo disse...

(depois de ler o texto)
Pelo sim, pelo não, acho que me vou manter mais algum tempo assim, solteira de marido e de filhos...!!

heartbreaker disse...

Besos andreia, quero-te animada!!

Unknown disse...

Mesmo em stress, o pai sabe o amor que existe nesta família, razão de esperança e alento...O esforço, como se nada fosse, pela felicidade do Tiaguinho, que a mãe sempre faz com o melhor sorriso... São minhas, também, estas preocupações com o Tiggy... Bebé mais lindo do Mundo!

Anónimo disse...

Sempre tiveste o dom de me emocionar com a tua escrita! E senti-me completamente rendida ao teu texto e às tuas palabras. Ia chorando... Compreendo perfeitamente o momento por que estás a passar, apesar de ainda não ter tido o grande privilégio de ser mãe! Mas penso muitas vezes em ti e no teu filhote... Penso que te irá custar horrores quando tiveres de voltar ao trabalho e à vida normal, deixando o teu bebé tranquilo mas distante! Penso muito nisso, mas também tu já seguiste a tua vida e privaste a tua família da tua presença para viveres em Lisboa e seguires os teus sonhos. E também o Tiago terá de seguir a sua vida... Imagino o quão doloroso deve ser! Imagino que estaria completamente em pânico no teu lugar, mas sei que vai correr tudo bem e que te adaptarás. Os homens são assim... animais de hábitos! E por mais que custe, todos nos temos de habituar às circunstâncias da vida. Achamos quase sempre que não conseguimos e quando damos por nós, já o fizemos!
Tem calma, amiga! O teu amor pelo Tiago e o teu excelente marido ajudar-te-ão a superar fases mais nostálgicas. Quero acreditar que a chuva foi responsável pelo desabafo.

Beijinhos, ADORO-TE!

Gotinha disse...

Posso sugerir que tires a foto do teu frigo??!
:-)

http://omeufrigo.blogspot.com/