16 dezembro 2010

Uma canção e uma história #18*

Uma canção para o meu funeral




Eu não tenho medo de morrer, nem medo da morte em geral. Nem sinto por ela existir qualquer tipo de pena ou rancor ou pressa estúpida em deixar tudo feito ou tudo dito antes que ela chegue.
Aceito. Entendo. E na verdade, vejo-a mais como uma recompensa do que como um castigo. Tem de ser muito melhor do que estar vivo, porque isso é que custa, isso é que dói...
Morrer tem de ser dar uma tarefa por terminada e não a punição certa para os piores crimes.
Tem de ser o princípio de uma liberdade total e não o final de um conjunto bonito de bons motivos para viver (os quais esquecemos todos os dias). Tem de ser uma coisa leve, daí o suspiro, tem de ser coisa fácil, daí o total desprendimento do corpo e dos sentidos, o fim da consciência, o fim da memória, o fim da razão.
A partir dali, nada se lembra, nada mais nos fere, nada mais importa.

Eu não tenho medo de morrer e também não acredito que voltemos transformados no que quer que seja, muito menos para fazer tudo o que não fizemos dentro da vida que temos.
Mas todos os dias tenho medo do que sinto, tenho medo que cada vez a ferida esteja maior e mais aberta e mais profunda. E que viver fique para sempre isto: uma sobrevivência inerte e insípida.

Eu não tenho mesmo medo de morrer. Mas tenho raiva à simples sobrevivência. E quando viver se transforma nisso mesmo, viver não é nada.



*Sem querer chocar ninguém, nem assustar, nem aterrorizar sequer. Por favor.

1 comentário:

*abobora menina* disse...

corage, querida! Força. Ha dias em que sobrevivemos, para voltarmos a viver intensamente. FORÇA!