26 outubro 2010

Uma canção e uma história #16

Uma canção que eu ouço quando estou triste




"Go to him, stay with him if you can
but be prepared to bleed"


É então que ela chega.
Vem para ficar.
Vai entrando na pele até chegar aos ossos e tornar-se parte de mim.
Vem com esta música. Ouvida vezes seguidas num só dia. Ouvida por dias e dias sem partes perdidas, sem pausas que interrompam as frases e questionem a história.
Eu deixo que ela fique. Sei que quando volta, volta ao lugar certo. Um regresso a casa. Um refúgio no caos. É uma espécie de companhia, um preencher o vazio com o recheio errado, um conforto que pesa, um remendar o erro com culpas sem sentido.
Dentro dela há, pelo menos, uma razão para aqui estar: dizem que se aprende mais na tristeza, que se cresce com ela, que se tomam melhores resoluções enquanto ela dói.
Agora é tarde. Acho que se tornou o meu modo de vida.

Há vozes em volta que falam em reacção, que mostram as melhores razões para novos dias, que não aceitam ou não entendem, que querem outra coisa dentro das coisas que eu quero. Nunca serão as vozes certas e calo-as enquanto ela canta, trazendo nos ouvidos o trejeito que ela faz com a voz quando fala em almas que se tocaram e admite que alguém tocou a dela.
Há, simplesmente, coisas que não se ultrapassam como um qualquer obstáculo a meio do percurso. Há sim obstáculos que interrompem percursos, que mudam direcções e que deixam de ser obstáculos para passarem a ser objectivos. Mostrando as mais cruas verdades, das piores formas, até há coisas que nos mudam para sempre.

E as vozes teimam em segredar-me os melhores sonhos para futuros que não quero viver, que não quero sonhar sequer. Ainda não.
Então, um dia, as vozes vão cansar-se de me desviar dos obstáculos, de me levantar os braços quando os mantenho cruzados e esta música continuará a tocar. Uma e outra vez, por dias e dias. Deixando a tristeza continuar a rasgar a pele e corroer os ossos, abrindo feridas ainda mais fundas, quando não sobrar mais nada que doa.

Afinal, talvez seja esse o sentido de tudo. Mesmo que ninguém esteja preparado para sangrar.

2 comentários:

Mégara disse...

Um dos meus refúgios é a música : )
E parece que conforme o nosso estado de espírito ou até mesmo o sentimento do momento há sempre aquela música que encaixa e só ela nos preenche naquele momento :)

Mégara disse...

Um dos meus refúgios é a música : )
E parece que conforme o nosso estado de espírito ou até mesmo o sentimento do momento há sempre aquela música que encaixa e só ela nos preenche naquele momento :)