Eu sei que te traí, mãe.
Tudo porque já não sou
Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.
Tudo porque ignoras
Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me?
Olha - queres ouvir-me?
-Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;
Ainda aperto contra o coração
Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;
Ainda oiço a tua voz:
Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
(Eugénio de Andrade)
13 comentários:
Palavras lindissímas!!!!
Amiga,
Tive a honra de passar este dia da mãe contigo, numa tarde muito especial, com emoções muito bonitas! Adorei rever amigos, voltar à rádio e verificar que por mais que os anos passem, continuamos como sempre... :) Gosto muito de ti!
Hummm, que bem que sabe ler coisas bonitas como este poema...
Hummm... gosto tanto do Eugénio de Andrade!!
Lembras-te dos meus cadernos de frases e poemas?! Desencantei do sotão a minha Arca dos Sonhos, com tannnntasssss recordações!!! Vens lanchar a minha casa para recordarmos tudo!? Eu faço pão com queijo no microondas!! Traz o Pedro e o Tiago!!
Doce e suave como todas as mães, como todas as palavras do Eugénio, como toda a poesia deve ser
:)
Bjinho
Como Eugénio me é querido... e aqui tão oportunamente lembrado, em palavras de filho e de mãe...
Espero que o dia vos tenha sido feliz!
Depois de um dia cheio de tão belas palavras... deixo um beijo solto nos sentimentos mil que nos enchem...
A ti... mãe!
Lindo... simplesmente...
sei que não me pediste convite, mas como vivo nos teus bons refugios se o quiseres, apita para rutedealmeidaborges@hotmail.com
Um beijo
Acabei de te escolher cara Beguinha a ti e às tuas tão especias palavras para serem um dos meus Thinking Bloggers... A ver na Fábrica o porquê da nomeação....
Beijinhos
Um poema lindo!
Bjs
é de facto lindo este poema...
A Fabrica de fazer Mundos encerrou as portas, agora moramos n' http://afabricadojoao.blogspot.com
beijinhos esperando-vos bem
MUDEI DE ENDEREÇO
PODES ENCONTRAR-ME AQUI: WWW.COISASILOISAS.BLOGS.SAPO.PT
Pstttttttttttttttttttttttttt!
Há mais de um mês sem "postar"??? VOLTA, estás perdoada!!!
Beijocas
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