
Ao ritmo da palavra repetida - Palminhas! Palminhas! Palminhas! - o Tigy abre as mãos pequeninas e rechonchudas e junta-as, ao nível do peito. Assim, com um gesto tão simples e banal o nosso bebé marca o dia e desarma-nos de toda e qualquer preocupação. Na verdade, o nosso filho de 7 meses bateu palminhas, sozinho, respondendo ao pedido da cantilena, num acto deliberado e consciente, e isso é importante demais para ser ignorado.
Hoje, dentro do carro, tentando romper a chuva na pressa que une o tempo entre o trabalho e a creche, recordei este e outros momentos dos últimos dias, numa espécie de "best of" musical. Com o pé leve no acelerador, mantendo a velocidade de cruzeiro que a estrada inundada exigia, ri com o Tigy de saco de papel na boca, recusando-se a entregá-lo ao pai. Lá dentro estavam as prendas e cá fora um Beguinho entusiasmado, no seu primeiro dia do Pai. O Tigy ficou com o saco para roer, o Beguinho com as prendas e eu com uma vontade pateta de ver chegar o meu dia - o da Mãe.
Ultrapassado um verdadeiro temporal de vento e água, paro o carro numa fila de outros tantos. Olhando de soslaio a cadeira vazia do bebé, no banco traseiro, revejo o contorcionismo invulgar que ele faz para sair dela.
Trancada no meio do trânsito, de vidros embaciados e irritação na garganta, os escassos metros que me separam da creche e, principalmente, o nevoeiro envolvente levam-me ainda para o banho da noite anterior. O primeiro na casa de banho feita sauna, o primeiro com um pato flutuante e com champô Johnson - que saudades tinha eu daquele cheiro! -, o primeiro em que acabei de cabelo a pingar e de costas doridas.
Com o terminar da viagem, e antes mesmo de trancar a porta e correr para resgatar o meu bebé, ainda tive tempo de sorrir com a perspectiva de que o dia, para nós dois, estava apenas a começar.