
Gosto de
gostar e gosto de quem
gosta de mim. Não gosto de fazer de conta, de parecer bem e não gosto ainda de mostrar que gosto do que não gosto. Gosto mesmo é de repetir que “
não gosto de fazer fretes”.
Gosto de
livros, de cadernos, de revistas e até de
folhas em branco. Gosto de escrever, de acreditar que ainda sei como fazê-lo. Não gosto de conversas inacabadas, de
histórias redondas, de frases cortadas por silêncios de receio. Gosto de criticar. Não gosto que me digam que estou sempre a criticar.
Gosto de
coisas simples: de bolachas molhadas em café, de bolo de chocolate recheado com chocolate e coberto de chocolate. Gosto de arroz com atum, de coca-cola (muito, muito) e de refeições no sofá em frente à televisão. Tenho pena de
não gostar de leite, de receitas inovadoras e de gastronomia elaborada. Mas, no fundo, não tenho pena nenhuma.
Não gosto de pessoas invejosas e muito menos das que vivem ao ritmo das vidas dos outros. Gosto de pessoas cheias de histórias, de ideias, de
talentos, de mistérios.
Não gosto é de quem diz gostar de toda a gente. Não gosto de perder as minhas pessoas. Gosto da minha família. Gosto dos meus cães. Mas não gosto da distância, dos quilómetros. Não.
Não gosto mesmo.
Gosto de estar em casa. De ficar em casa. De permanecer em
casa. Não gosto de limpar a casa. De arrumar a casa. Mas do que eu não gosto mesmo é da casa suja, é da casa
desarrumada. Gosto de andar de carro. Gosto quando a rádio dá uma música diferente. Não gosto de filas, de estacionar longe, de pôr gasolina.
Gosto de música com
palavras. Mas palavras cheias de sentido. Não gosto de grande parte dos grupos e cantores que aqueles da minha idade gostam. Normalmente
nem sei quem são. Gosto é da Mafalda Veiga e da Mariza; da Adriana Calcanhotto e da Marisa Monte. Gosto mais de música no feminino.
Não sei é porquê.
Gosto de gente da televisão.
Adoro actores, actrizes, realizadores, encenadores. Não gosto de lembrar que não sou um deles. Não gosto de maus actores, de maus textos, de maus finais. Mas gosto de palcos, de câmaras, de microfones. E gostava de um dia andar por aí.
Gosto daquelas coisas que
todos gostam de dizer que não gostam: telenovelas, baladas do momento, centros comerciais. Gosto realmente é de dias de
chuva, de tardes escuras à lareira, de manhãs na cama, de casacos e camisolas de gola alta. Gosto de
lembrar quando gostava de ir à praia. E gosto de frisar: verão, areia, bikini e mar não me fazem falta nenhuma.
Ou quase.Não gosto de deixar tanto por dizer. Gosto de ter gostos. De duvidar deles. De os contrariar. De os ver mudar com a idade, com as surpresas dos dias, com a rotina, comigo.
Não gosto de desgostos. Mas gosto de saber que foram os maiores desgostos da minha vida que me deram todo este gosto de viver.
Gosto de ser mãe.E basta dizer isso para dizer quase tudo sobre mim.