
Uma ida à pediatra é, sempre, uma manhã de stress. O Tigy não está habituado a correrias, a saída com horário, ao trânsito da manhã, também a alguma falta de paciência do pai e a alguma impavidez da mãe. Ultrapassada a cidade em dia de chuva, o Tigy e o pai deliciaram-se com a estreia do canguru - os dois de gabardine, enfrentando o tempo num dia cinzento - juntos, quase colados, partilhando o pulsar da pressa, juntamente com os remoinhos do cabelo, a forma do rosto, sabe-se lá que mais parecenças ou segredos... Eu, no meu passo menos apressado, pensava nisto tal qual como o escrevo agora.
A consulta teve o registo do aumento de peso, o crescimento da cabecinha e de todo o corpo, teve alguma choradeira até. No final de tudo soube-se que o Tigy está de perfeita saúde e, em breve, irá provar a sua primeira papa.
Depois, continua o dia... Um dos de chuva que quase sempre traz momentos de nostalgia. Principalmente quando se tem tempo a sós, resguardada no sono do bebé, no silêncio da tv, numa vontade de dizer muito sem revelar nada. A distância começou a ter para mim um significado completamente novo desde que o Tigy ganhou forma, peso e pulsação dentro da minha barriga. Agora, a viver a sua vida, a respirar o seu ar, a sentir a sua pele, a descobrir o seu mundo... essa distância tem-se revelado quase insuportável. Olhar para ele, para nós dois nos nossos dias muito iguais, ganha, vezes demais, um sabor a tristeza que se funde com a felicidade grandiosa e inqualificável de o ter, de o amar. Partilhar tudo isto, com quem eu queria, diariamente, atentamente, presentemente, de forma real, palpável, certa, revesteria toda esta paixão com uma leveza que não lhe consigo dar, agora. E é assim, no momento da vida em que me devia sentir mais crescida, um núcleo de protecção e de força para o meu bebé, que me sinto mais frágil, mais incapaz, mais menina, mais saudosa, mais perdida. O peito acaba por não sustentar todo o ar e, às vezes, há coisas que têm de sair pelos olhos!
O melhor de tudo é perceber que nada na vida é comparável ao meu bebé: ao seu sono tranquilo, ao seu despertar mimado, às suas exigências singelas, à sua agitação divertida. E nada do que vivi, para trás, é comparável a este papel de mãe: ao meu sorriso embevecido, à minha preocupação constante, ao meu medo infundado, até à minha fragilidade imensa. Tudo isto, misturado com o pânico de ver o tempo passar e de sentir que estes dias assim, mesmo a dois, irão acabar. E a partir daí nada será como antes.