04 fevereiro 2006

Sabores do regresso


À minha Mãe,
porque há coisas que não se agradecem


A palavra regresso sempre teve, para mim, um sabor açucarado. Da minha boca já saiu inúmeras vezes a frase: "Gosto muito de viajar, mas adoro regressar a casa." Agora, regressada ao trabalho, conheci o outro lado de uma mesma palavra, um lado mais cinzento, feito de um sabor mais azedo.

O fim de um tempo sem exemplo preencheu-se com alguns sustos e muitos imprevistos. Ao cabo de cinco meses, o Tigy adoeceu. Uma virose comum, diz a pediatra, composta de febre, diarreia e vómitos. Tudo misturado com constipação e dentes a nascer. Um estado que se estendeu aos restantes membros da família, eu incluída, e que agitou os meus últimos dias por casa. A algumas horas de um primeiro dia de trabalho, de um regresso, de uma obrigação, o veredicto de que não havia creche até passarem todos os sintomas, derrubou uma réstea de optimismo que pairava em mim, por causa do tal regresso.
Soube ali, naquele momento, que não sou tão forte como supõe a palavra "mãe", que não sou tão decidida como supõe a palavra "adulto", mas que sou suficientemente apoiada e acarinhada como supõe a palavra "filha". Obrigada à minha Mãe pela viagem madrugadora, pelos dias ao lado do Tigy e por ter tornado este meu regresso um pouco mais leve, um pouco mais condimentado.

A frase: "0 que não nos mata torna-nos mais fortes" traduz-se, aqui, numa semana complicada, que tornou a transição - entre dias cheios de tempo para dias com falta dele - mais tempestuosa, mas mostrou-me que daqui para a frente assim será: horas de trabalho, horas de regresso a casa, horas de Tigy, horas para os meus refúgios. Ou antes pedaços de horas para um pouco de tudo.
Recomposto, cheio da energia que tem e transborda, o Tigy é agora o meu melhor regresso, quando acaba o trabalho e começa a vida, quando se cumpre a obrigação e começa o prazer.

11 comentários:

Ana disse...

A grande questão no meio de todas essas horas é não te esqueceres de ti própria. É também importante que o trabalho não seja apenas obrigação , pois essas horas tornar-se-ão num inferno. E é bom também a mãe deixar espaço ao filho,apesar da enorme vontade de estar sempre com ele , de o encher de beijos e mimos. Eu , mãe , tem sido um pouco diferente do comum das mães , mas a força para ultrapassar tantos IMPOSSIVEIS cresceu porque pude dispersar-me com o meu trabalho e essa foi a melhor forma de ajudar o meu filho :) É claro que a nossa MÃE é sempre a força maior.
Força para este novo começar.

sombra_arredia disse...

...E vais ter tantos mais dias assim pela tua vida fora...

mas vai com calma... não exigas demasiado de ti própria, ainda és Mãe há pouquinho tempo ;)
Bjinho doce

Anónimo disse...

Ser mãe é então uma sucessão de surpresas constantes...

heartbreaker disse...

Andreia, Andreia..... custou-te muito teres de regressar desta vez, n foi?... Realmente, da forma como o disseste, este foi, ao contrário do que se passava antes, um "regresso" totalmente diferente!
Besos*

Anónimo disse...

Imagino como deve ter sido difícil este regresso. E lamento que todos os regressos diários que se avizinham não se perspectivem mt melhores. O que vale é terás sempre o REGRESSO a casa.. ao teu refúgio.

Bjs Gds

Jane & Cia disse...

O mundo funciona ao contrário, em alguns países nórdicos começas a trabalhar às 8h mas sais as 15h30, e depois o tempo para a família, em casa no quentinho. Aqui trabalhamos muitas vezes até às 19h (o meu caso) e depois ainda à a viagem para casa, o tempo para os nossos é tão pouco. Concordo com o comentário da Ana de que o trabalho não pode ser apenas uma obrigação, mas nestas horas de mudança imagino o quão penosas devem ser as horas longe de casa.
O Tigy tem muita sorte, porque a tua angústia é o teu Amor!
Que os dias vos sejam felizes

Unknown disse...

E o Tigy tem sempre aquele sorriso para nós, aqueles gritinhos e risadas, e aquela forma encrespada de nos pedir colo... também agradeço à tua mãe, não só por ter vindo tomar conta do nosso menino, ou por tomar conta da minha beguinha, mas por tudo... beijinhos conjugais!

AnaGarrett disse...

Bonito.
As melhoras do Tigy.
Beijinhos do Bebé Sebastião

Carolina disse...

Gostei muito do texto Beguinha :)
Está muito bonito e verdadeiro!
Beijinho grande para vocês

Anónimo disse...

Nem imaginas quantas vezes já passei por este post... fico sempre emocionada e dou por mim a pensar o que seria de nós sem as "mulheres da nossa vida"?!
Beijinhos amigos
Cátia

BlueAngel aka LN disse...

Como sempre, adorei o teu texto. Mas hoje venho aqui para te lançar um desafio:
"Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue.")