24 fevereiro 2006

O momento deles




Soa a chave na porta e o "bac" que a fecha adivinha mudanças no rosto do Tigy. Chega o pai e há um sorriso aberto e profundo que lhe inunda a cara, chegando a arranhar a garganta e a fazer rugas nas bochechas. Os olhos ficam pequeninos e rasgados e os gritinhos de alegria ecoam na sala. O pai, de rosto condizente, abraça-o e beija-o, solta gritinhos semelhantes e enceta um rol de teatrinhos e mimos.
Eu, no canto do sofá, disfarço algum embevecimento ao assistir aquele momento, fingindo-me distraída ou mesmo ausente. Aquele é o momento deles. O meu é, talvez, aquele em que o trago no carro no fim de mais um dia; aquele em que entramos em casa e a encontramos de janela fechada e cheia de silêncio; aquele em que nos sentamos no sofá e, mesmo sem ele pedir, nos abrigamos, muito juntos - enquanto o Tigy mama, eu redescubro os traços do seu perfil e o desenho das suas mãos. Naquele instante, o dia passado assemelha-se gigante e há um misto de saudade e nostalgia que intensifica o sossego e o aperto do colo.

Ali, no momento que é só deles, há uma magia especial feita de cumplicidade, entregas e recompensas. O Tigy do pai não quer leite, nem abraços de silêncio; quer antes canções e gargalhadas, danças e passeios pela casa, voos e conversas. Em troca, tem para ele, aquele sorriso enorme, aberto por uma alegria sincera, que me humedece os olhos e me faz sair, despercebidamente.

Ouve-se a chave. E enquanto a porta não fecha, reolho o bebé atento ao ruído. Está prestes a começar o tal momento. O deles.

10 comentários:

Anónimo disse...

É linda a simplicidade e sinceridade como as palavras saem de ti... pelo menos é assim que as sinto cada vez que leio ou re-leio teus textos.

Beijos muito grandes para os Três

ilda

BlueAngel aka LN disse...

em parte, tu também fazes parte desse momento. :) como o provam as tuas palavras.

Anónimo disse...

Belo texto. Pena o erro em "finjindo-me" (quando o correcto é "fingindo-me").

AR disse...

Obrigada pela correcção "Anônimo". Toda a gente se engana... Beguinha

Carolina disse...

:)
É mágico não é? A C. já tem 3 anos e meio e eu derreto-me toda ao presenciar os momentos dela com o pai. Gosto de ficar distante,a observar de longe,deixo-os contemplar cada momento ao jeito deles,e juro,não me apetece interrompê-los nem por nada.

Anónimo disse...

Assim de repente, o meu relógio biológico fica acelerado! Se eu começar com uma grande vontade de ser mãe permanentemente,a culpa é toda e unicamente tua!

Anónimo disse...

... qualquer comentário será plágio do da Cláudia Pinto...

Anónimo disse...

ehehehehhehehe. Boa, Maria Luis!!! Já me sinto mais compreendida entao :)

Jane & Cia disse...

por isso a natureza em perfeição deu-nos um pai e uma mãe!*

Unknown disse...

Não há momento nosso, sem a cumplicidade da mãe... Texto bonito,claro, assim quem se comove sou eu!