09 novembro 2012

O som do meu silêncio

Lá pelos meus 13 anos chegou à escola aquela moda das guitarras. Todas as meninas participavam nas aulas de música extracurriculares e andavam de guitarra debaixo do braço nos intervalos.

Quando a pousavam no joelho, invariavelmente, saía esta canção:



A minha inaptidão para a música nunca me fez parte desse grupo, mas mantive-me sempre do outro lado, ficando sentada por perto quando as amigas, as mais e as menos dotadas, tocavam num tom sussurrado “hello darkness my old friend”. Lá por casa descobri até um disco antigo dos pais com a canção original e ela tornou-se parte dos meus dias de palavras e ideias, dentro de um círculo redondo, fechado e finito onde deambulava sozinha.

Por aquela altura eu ouvia ainda menos música em inglês do que nos tempos que se seguiram e, para mim, as palavras da canção praticamente começavam e acabavam no título - o tal som do silêncio que me soava tão bem. Tão inteiro. Tão real. Numa espécie de entendimento cúmplice entre os meus desejos e os meus medos. Entre as minhas ideias e os meus limites.

Criei, então, com o silêncio uma relação de intimidade, encontrando nele o espaço seguro quando manda o barulho. A minha vivência dentro do silêncio veio desses momentos para o resto da minha vida, de uma forma muito intensa e muito presente, numa intimidade palpável feita de livros e de canetas, de cadernos e de folhas, de teclados e de segredos.
Com a idade e as coisas da vida, o silêncio tornou-se um aliado. A melhor resposta para as piores questões, a melhor arma contra o ataque.

Hoje, que até já entendo e absorvo cada frase da canção, continuo deslumbrada com o som que o silêncio faz dentro de mim. E há pouca coisa que preze mais do que a total abstinência de barulho, a íntegra quietude do espaço, a calma desprovida de sons. Vejo-o como um privilégio. Como a minha maior capacidade, como um sigilo de mim comigo, como um pacto individual a preservar, a reclamar, a guardar.

Eu com ele. Ouvindo-o. Tocando-o. Deixando as pessoas conversarem sem falarem, ouvirem sem escutarem, incapazes de perturbarem o meu silêncio... tal e qual como diz a canção.

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