04 janeiro 2007

O novo cesto dos brinquedos


Procurei atentamente dentro da loja e encontrei exactamente o que queria: um cesto rectangular enorme, feito de verga mas forrado a tecido às riscas brancas e vermelhas. O saco maior não dava para o transportar e, sem conseguir agarrar as asas convenientemente, levei-o até ao carro e encaixei-o no banco traseiro, mesmo ao lado da cadeira vazia do Tigy.
A hora de almoço fez-se desta missão pós-natal: arranjar um novo poiso para os brinquedos do bebé.

No seu segundo Natal, o Tigy viu-se rodeado de montanhas de papel colorido. Com os embrulhos na mão, agarrava os laços e entretinha-se a colar e descolar a fita-cola dos dedos... Entretanto, a mamã Beguinha abria as prendas e partilhava-as com a família. Ao meu redor, debaixo da cadeira, em cima dos pés, sem colo que albergasse tamanha quantidade de objectos, foram multiplicando-se os brinquedos. Brinquedos de todas as formas e feitios, com sons mais ou menos irritantes, com luzes mais ou menos incandescentes, com maior ou menor funcionalidade ou pedagogia, de todas as marcas e tamanhos, com todos os objectivos ou falta deles...
Enquanto a sala se enchia de caixas vazias, de papel amarrotado, de carros a vaguearem por entre as nossas pernas, de puzzles e legos espalhados por baixo do sofá, de algumas roupas dobradas em cima de uma cadeira, encontrei-me a mim mesma "com-uma-sensação-estranha-sentida-cá-dentro-mas-que-por-muito-que-pense-não-encontro-palavra-capaz-de-traduzir". Sei que tinha uma ponta de tristeza, uma dose grande de incómodo, uma boa parte de culpa. Ao comentário da avó de que tamanha parafernália de brinquedos dava para abrir um bazar, soltei uma frase parecida com "de certeza que existem tantas crianças que não receberam nenhum brinquedo e olha para isto..."

Não me considero um exemplo de solidariedade, perante tantos e grandiosos que vou descobrindo, mas este Natal - talvez culpa da nuvem escura que, nos últimos tempos, me segue para todo o lado, poisada no cimo da minha cabeça - o rasgar dos embrulhos soou a vazio e pouco a encanto.

Chegada eu, o bebé, o pai Beguinho e o cesto a casa, o Tigy encontrou neste último o brinquedo que lhe faltava: alçou a perna e entrou para dentro dele, sentando-se bem confortável de pernas abertas e mãos poisadas, cada uma em sua aba. Ali estava, dentro do enorme cesto de verga, o meu melhor presente. Diário e permanente. Sem precisar de laços ou embrulhos.

11 comentários:

BlueAngel aka LN disse...

É sempre assim:o mais simples é o mais atraente. Nem sempre o mais vistoso é o mais apreciadso!

CLS disse...

Eles contentam-se com as coisas simples, os grandes é q têm a mania de complicar :)
Beijinhos e vamos a enxotar essa nuvem!

Lipa disse...

:)
Pois é as coisa mais simples são as mais encantadoras!
Também fiquei com essa sensação de tristeza ao pensar nas crianças que não têm prendas :/
beijinhos e xou a essa nuvem negra!

Unknown disse...

... e crianças que não têm pais, avós, carinho, sem infância, sem inocência, que crescem sem que se lhes faça justiça. Enfim... Para o ano alguns dos brinquedos do Tigy (em bom estado) têm de ir para elas...

Jane & Cia disse...

Tão simples, tão belo, tão brilhantemente eficaz!

E esse sorriso que imagino a sair do bebé no mundo as riscas, tão seu!


Xô nuvem cinza, Xô!
Mando-te o sol :)

Anónimo disse...

E só tu podias escrever assim... e descrever tão bem o que te vai na alma!

Beijinhos grandes.

Anónimo disse...

Mas dessa sensação de vazio ao rasgar do papel de embrulho, pode sair um acção bonita. Basta reunir os excedentes e levá-los às crianças que têm pouco. O Tigy ainda não sabe dar valor, mas certamente ficaria contente ao ver a alegria das outras crianças!!!
E para isto acontecer nem precisa de ser Natal!

Bom Ano!

RB disse...

Consumismo...
Felicidade nas coisas simples...
Assim o é...

Um beijo

Docinho disse...

E com tudo para te fazer adorar a surpresa ; )))
Um presente especial... o mais especial!

Beijos aqui

PS gosto da forma como escreves... muito!

Docinho disse...

Cucu? onde andam as tuas palavras?

Beijos a procurar

um cara legal... disse...

temos algo em comum...
=]