06 junho 2010

Nunca mais




Eu sempre fui a miúdas das certezas, dos definitivamente, dos para sempre, dos está decidido, do não há volta a dar. E viesse quem viesse, o Papa ou um decreto lei, não havia maneira de alterar o que estava decidido ou pensado ou dito. Por causa disso, e por muita racionalidade que fosse faltando, por muitos conselhos ou chamadas à razão que aparecessem, Beguinha que é Beguinha só decidia uma vez. Daí para a frente nada feito.

Isto tem tanto de convicção como de orgulho, tem tanto de teimosia como de segurança.
No seguimento disto, desde muito nova quando saía da minha boca qualquer coisa como "nunca mais" o nunca mais era mesmo nunca mais e não havia cá espaço para excepções. Por causa de histórias como estas já estive um ano sem comer chocolates, já perdi a conta aos meses em que estive sem beber coca-cola, já fiz dieta de bolachas e já me obriguei a comer um iogurte por dia. Isto para não acrescentar aquelas coisas como nunca mais passar em tal rua, nunca mais dizer tal palavra, nunca mais ouvir tal música, nunca mais estacionar o carro numa certa vaga, nunca mais entrar em determinada loja. Fica acrescentado no entanto.

Isto tudo teve sempre muito mais de obstinação do que de crença, muito mais de pensamento mágico do que simples tolice.


Mas, às vezes, é preciso pensar tudo outra vez. Dar voltas à cabeça, pensar as certezas que temos e mudar pelas certezas que devemos.
Porque há um momento certo para repensar tudo. Para mudar tudo. Para virar a gaveta do fundo, tirar tudo cá para fora, limpar o pó, rasgar os trapos. E mudar. E avançar. E recomeçar. E acreditar que essa coisa da felicidade ainda existe mesmo sem pensamentos mágicos ou sem "nunca mais" que podem bem nem durar para sempre.

1 comentário:

Rui Tigeleiro disse...

nunca mais fazes uma coisa tão estúpida
nunca mais!!!