30 janeiro 2009

Meninas e moças




Feitas as contas assim por alto, vivemos juntas sete anos. Sim, como uma família. As quatro na casa amarela. Na rua daquele que escreveu:

"Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe."

Como se no século XV, aos 18 anos, as meninas já deixassem a casa dos pais para irem para a faculdade, na grande cidade.

Foi assim que nos cruzámos: aos 18 anos, caloiras, ainda pouco habituadas a fazer o jantar, pôr a roupa a lavar e pagar as contas da água e da luz. Juntas, as quatro, crescemos. Passámos de caloiras a licenciadas, de recém-licenciadas a trabalhadoras por conta de outrém. Pelo meio passámos de solteiras a comprometidas, de sonhadoras a objectivas, de quase adolescentes a quase adultas.

Criámos, à nossa maneira, uma família. Aquela que era a nossa durante os cinco dias da semana, aquela de quem levávamos novidades ao fim-de-semana quando íamos a casa - à casa de cada uma, em pontos tão distantes do país.

Passou mais de uma década. A casa amarela já não é nossa. A nossa mesa de jantar em pleno corredor já não está lá. Os sofás improvisados, feitos de grandes almofadas e que transformavam uma espécie de despensa numa sala-de-estar, já não existem. Nós seguimos os nossos caminhos: além fronteiras ou por terras de Portugal, nos bairros típicos de Lisboa ou num novo bairro que estende a cidade. Nós criámos novas famílias e até já as fizemos crescer. Nós temos agora as nossas mesas de jantar, os nossos sofás mais convencionais, as paredes das nossas casas de cores diversas. Porém, seremos sempre uma família. Aquela tão especial. E, aquilo que somos hoje, enquanto mulheres, enquanto mães, enquanto companheiras, enquanto profissionais, será sempre um reflexo do que demos umas às outras: tempo, atenção, carinhos, entregas e uma vivência de amizade que sei eu - tenho absoluta certeza - nunca mais terei na vida.

Por tudo isto, obrigada à Catarina, à Vera e à Rita, a minha família da casa amarela.

Nota - Este é um texto há muito tempo programado e surge agora para que diga ainda que a Catarina foi mamã há três semanas e que isso me tem feito pensar todos os dias: que crescidas que estamos!


9 comentários:

BlueAngel aka LN disse...

Eu também tenho uma família contigo, mas não é a da casa amarela. É do cogumelo envidraçado (ou envenenado, como lhe chamaram um dia) onde juntas também criámos uma vivência e uma aprendizagem de vida que deu origem à nossa amizade e à relação que mantivémos. É fantástica a forma como as pesdsoas que passam pelas nossas vidas nos faz moldar a nossa personalidade e forma de ser.:-) beijocas larocas com amizade

Cláudia Pinto disse...

Adorei o teu texto e acabo por me tornar repititiva mas escreves mesmo bem! O que é bonito é que as amizades ficam. As meninas da casa amarela são hoje mais crescidas, com outros objectivos, algumas delas mães e outras hão-de ser. Tenho a certeza que essa amizade permanecerá tão bonita quando cada palavra que partilhaste connosco. Beijinhos a ti, ao Pedro e ao Tiaguinho

Zé Ventura disse...

Peço desculpa da intromissão, mas não resisti à tentação de meter aqui uma “colherada”.
Eu que cultivo a amizade como um bem essencial acho o texto enternecedor.
Acompanhei o vosso percurso desde o Santana Lar, sempre achei o vosso grupo “especial”, e vivo os vossos sucessos com muita satisfação.
Outro motivo do meu comentário é reafirmar que escreves muito bem, acho até que merecias ir mais longe na arte da escrita, mas a vida é como é e não há volta a dar, e como não tenho a varinha de condão para te ajudar nos teus sonhos, continua em busca do sucesso que bem mereces.
Um beijo
Zé Ventura (Pai da Catarina)

Anónimo disse...

Ai...que me fizeste arrepeiar e chegar uma lágrima aos olhos!!!! Apesar de longe esta minha (nossa) familia está sempre comigo, no meu coração, nas minhas aventuras por várias terras, várias casas (nenhuma amarela, claro)...uma familia que me dá muito orgulho, muita força e a quem desejo o melhor do mundo!

Muitos beijinhos
Rita

CLS disse...

Também tive uma vivência destas que, com muita pena minha, se desvaneceu, com o tempo e outros desencontros menos agradáveis. Mas ainda hoje penso muito nelas e acredito que elas pensarão em mim, às vezes sinto-me tentada a dar um primeiro passo... e hoje reavivaste-me essa vontade.
Um beijinho.

Catarina Leite Silva disse...

Nunca conseguirei escrever tão bem como tu, as nossas vivências naquela casa.
Guardo com maior carinho todas as experiências e cumplicidades que vivemos e acho que todas elas nos fizeram efectivamente crescer.
Encontrei naquela casa uma verdadeira família e hoje sigo cada passo vosso com entusiasmo e orgulho!
Vivemos momentos muito especiais e por isso digo que crescer convosco tornou-me sem dúvida numa pessoa melhor!

Beijos doces,
Catarina

PS - Desculpa o atraso do meu comentário, mas com um bébé recém-nascido, o tempo tornar-se muito curto!

Margaret disse...

ainda bem que me visitaste! ainda não conhecia este cantinho tão especial. também gostei muito de ler :) adorei este e todos os outros posts abaixo, principalmente o "eu já" ;) boa dica!
beijinho!

margarida disse...

Vim retribuir tão gentil e agradável visita. Deixo-te beijinhos.

Anónimo disse...

Só hoje tive oportunidade de entrar neste teu cantinho, que adorei.
Não vivi na casa amarela, mas conheci-a; não fiz parte da família da casa amarela, mas ouvi falar dela; não presenciei de perto a vossa amizade mas sei que é pura.
Só quem saiu de casa dos pais sozinha, com tão tenra idade e muitos sonhos na bagagem e se viu obrigada a crescer no meio da azáfama da capital percebe e interioriza as tuas palavras.
Foi a minha família da casa tradicional (FDUL) que me permitiu chegar ao fim da dura batalha e ver que as amizades sinceras perduram, desde que queiramos ...
E viva aos Tiagos, aos Joões e aos Afonsos ...
Ana A.