Feitas as contas assim por alto, vivemos juntas sete anos. Sim, como uma família. As quatro na casa amarela. Na rua daquele que escreveu:
"Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe."
Como se no século XV, aos 18 anos, as meninas já deixassem a casa dos pais para irem para a faculdade, na grande cidade.
Foi assim que nos cruzámos: aos 18 anos, caloiras, ainda pouco habituadas a fazer o jantar, pôr a roupa a lavar e pagar as contas da água e da luz. Juntas, as quatro, crescemos. Passámos de caloiras a licenciadas, de recém-licenciadas a trabalhadoras por conta de outrém. Pelo meio passámos de solteiras a comprometidas, de sonhadoras a objectivas, de quase adolescentes a quase adultas.
Criámos, à nossa maneira, uma família. Aquela que era a nossa durante os cinco dias da semana, aquela de quem levávamos novidades ao fim-de-semana quando íamos a casa - à casa de cada uma, em pontos tão distantes do país.
Passou mais de uma década. A casa amarela já não é nossa. A nossa mesa de jantar em pleno corredor já não está lá. Os sofás improvisados, feitos de grandes almofadas e que transformavam uma espécie de despensa numa sala-de-estar, já não existem. Nós seguimos os nossos caminhos: além fronteiras ou por terras de Portugal, nos bairros típicos de Lisboa ou num novo bairro que estende a cidade. Nós criámos novas famílias e até já as fizemos crescer. Nós temos agora as nossas mesas de jantar, os nossos sofás mais convencionais, as paredes das nossas casas de cores diversas. Porém, seremos sempre uma família. Aquela tão especial. E, aquilo que somos hoje, enquanto mulheres, enquanto mães, enquanto companheiras, enquanto profissionais, será sempre um reflexo do que demos umas às outras: tempo, atenção, carinhos, entregas e uma vivência de amizade que sei eu - tenho absoluta certeza - nunca mais terei na vida.
Por tudo isto, obrigada à Catarina, à Vera e à Rita, a minha família da casa amarela.
Nota - Este é um texto há muito tempo programado e surge agora para que diga ainda que a Catarina foi mamã há três semanas e que isso me tem feito pensar todos os dias: que crescidas que estamos!