29 outubro 2006

Quando a mamã tem medo


No pequeno espaço de uma semana, a mamã Beguinha teve de encarar e ultrapassar os medos que vêem da infância e que, afinal, não se vão embora nunca.

Costumo dizer, e repetir, que se esqueceram de me dar coragem! Ao longo dos meus 27 anos nunca tive um impulso de aventura, nunca senti o sabor que ouço de alguns acerca do perigo, do desconhecido, da queda iminente, do escuro, do novo... Nunca andei na montanha russa, na verdade nem nos carrinhos de choque. Nunca gostei sequer de escorregas, baloiços, mergulhos no mar, zonas desertas, gente suspeita, becos escuros. Tenho pavor de andar de avião, de barco, de mota, de bichos de toda a espécie, de alturas, de velocidades... Da infância à adolescência, da juventude à idade adulta, os meus medos sempre foram a minha rotina e essa minha rotina sempre se fez num mundo de palavras, de folhas em branco, de canetas a escorregar no papel poisado nos joelhos. E, dentro do meu tempo, sempre vivi bem com a falta de coragem que tenho. Assumidamente.

Isto para contar que para além de ter visitado Paris e não ter subido à Torre Eiffel, que para além de ter fugido de tirar uma foto com uma simples arara no ombro, que para além de já ter feito toda a espécie de figuras ridículas dentro de um avião, durante as viagens mais pacíficas do mundo, eu sempre tive horror a vacinas e dentistas.

E, pois que, numa semana apenas, recebo a vacina do tétano, em atraso há cinco anos, por razões óbvias, e numa emergência, com dores imensas, causadas pelas consultas anualmente adiadas, por razões igualmente óbvias, tenho de ir ao dentista.
Lembro com uma certa vergonha, aquele dia em que, no centro de saúde, várias enfermeiras tiveram de me segurar para que uma delas conseguisse acertar com a agulha no meu rabinho. Lembro com imensa ternura as consultas no dentista, em que a minha irmã ficava sempre ao meu lado, enquanto eu lhe espremia com toda a força os dedos das suas mãos.

Agora, crescida, casada, profissional, mãe... foi sozinha, mas sempre apavorada, que enfrentei o medo. De braço exposto, tentando manter uma conversa de circunstância com a enfermeira, senti a agulha penetrar na pele, memorizando sempre que esta vacina é, apenas, de dez em dez anos. E dez anos é tanto tempo! Por fim, enquanto descia a manga da camisa, já sorria ao lembrar a dúvida, sempre latente na minha cabeça, enquanto aguardava a minha vez, de senha na mão, na sala de espera: "posso vir cá noutro dia"!
Dias depois, a viagem entre o trabalho e o consultório da Doutora Rosa foi feita completamente em pânico. E foi assim mesmo que me declarei ao encarar pela primeira vez a dentista. Depois de uma noite mal dormida, estar ali, naquela cadeira, com os olhos estacionados no candeeiro do tecto, e não sentir absolutamente dor nenhuma... desatou-me um sorriso! Envergonhado.

Nos tempos em que esperneava no centro de saúde para tomar a vacina, nos tempos em que entortava os dedos da minha irmã no dentista, pensava, afirmativamente, que os adultos, como a minha mãe, não tinham medo de agulhas ou tratamentos. Tinha a certeza que isto eram reacções de criança e que depois, milagrosamente, dissipavam-se.
Agora, mulher e mãe, descobri que há medos que não passam com a idade. Definitivamente. E que, se calhar, nunca serei a melhor pessoa para levar o Tigy a coisas como estas.

14 comentários:

RB disse...

Foi engraçado descobrir isso agora, de ti...
A tua escrita desbrava tantos caminhos,onde a ausência do medo espreita e te mostra uma mulher desmedida em coragem, essa que afirmas que não tens...

Anónimo disse...

mariquinhas ;)

Jane & Cia disse...

Ó... eu tenho medo até de pombas... e julguei que morria porque fui coagida a entrar e andar numa montagem russa.
Entendo-te tão bem.
felizmente haverá alguém para o levar às coisas que tu não conseguires.
Para as outras mostras tanta coragem!!!
Beijinhos

Anónimo disse...

Eu, simplesmente, não vou a médico de espécie alguma, sozinha!!
Não é medo que tenho... é falta de amparo!!

Anónimo disse...

Lindo!!! Muito bom mesmo! Tenho andado a ir a algumas consultas de dentista. Passou a ser o meu passatempo semanal... ahahahha! Também andei a adiar, não por medo, mas porque simplesmente adiava! E agora estou numa luta de organizar os meus dentinhos todos. Não tenho medo nenhum, mas também não acho muita piada quando a dentista me dá uma anestesia mal dada... Ela até comenta que apesar do meu ar frágil e de "boneca de porcelana que se vai desfazer" tenho uma personalidade forte! Vamos ver se a mesma atitude que tenho tido ao longo destas semanas se verifica quando for arrancar o dente do ciso (ditou o raio x que fiz que ele não está lá a fazer nada e está a roubar espaço aos outros, o desgraçado).

Enfim... percebo perfeitamente as tuas inseguranças e achei este texto delicioso! Acredito que seja mais fácil levares o teu filhote do que ires tu... E a ele demonstrarás sempre IMENSA CORAGEM e determinação para estas coisas menos agradáveis da vida.

Beijocas

Anónimo disse...

Ok... Corrijo o termo pouco correcto: "tenho andado a ir"... Reflexo de muitas horas de trabalho. Corrijo para : "tenho ido a algumas consultas do dentista".

Antes que me caiam em cima com a correcção, cá estou eu a redimir-me!

LOL

BlueAngel aka LN disse...

Vivi esses teus medos contigo e sei como te sentias. Também te disse que ia correr tudo bem e que não havia razões para receios. Diseste-me depois, o que aqui escreveste agora, que eu tinha razão e nem era isso que procurava em ti e de ti. Quis apenas cumprir a minha função de amiganestas ocasiões a de te dar força. Fiz o meu mehor, mas nunca te escondi que tb eu tenho medo dessas coisas: vacinas e dentista. Qto às montanhas russas, aviões e esse tipo de emoções contem comigo. Já pássaros e penas deixa estar, dispenso bem! :-) No funo somos todos iguais e não há ninguém que não tnha medos! Tu foste uma grande mulher e és uma excelente mãe e podes conceteza acompanhar o Tiggy nessas alturas.

Smas disse...

Reconheço-me em algumas da stuas palavras, dos teus medos... Mas vais ver que quando for com o Tiggy se tiver de ser vais ter toda a coragem do mundo.
Bjs

Anónimo disse...

Não há mãe que renasça em Mãe que não seja interpelada pelo assunto "medos"!
Há medos que são incontornáveis, outros há que, curiosamente, pelo advento da maternidade se tornam mais fracos ou mais fortes, consoante a necessidade.
Quando for necessário, os teus medos desaparecerão. XÔ! Lol.
Beijinhos.

sombra_arredia disse...

" O medo, acabou de chegar
vazio, que te prende ao lugar!
[...]
O medo é capaz de se rir
se percebe que que não podes fugir.
[...]
O medo não é mais do que tu"

P.Abrunhosa

Cláudia Félix Rodrigues disse...

Viva!!

Achei o máximo os teus medos. É que como terapeuta acho que seria interessante descobrires a real origem deles. Acredita, podem ser ultrapassados. basta querer. No entanto, se te sentires mais segura com esses medos (às vezes acontece), está bem.

Vim cá hoje pq só agora vi o comentário no meu post de 7/10 a dizeres "Aproveita, essa idade não volta". Sabes, não quero que volte. tal como não quero que volte nenhuma. Vivo bem cada dia (sem medos) e por isso não quero que voltem. Estou sempre ansiosa pelo que o dia de hoje me reserva que pelo o dia de ontem.
Muito obrigada pelos parabéns.

Beijinhos de Luz

Docinho disse...

Oh como percebo as tuas palavras... os teus medos... eu era assim... detestava...
Durante a gravidez perdi o medo... hoje já consigo ir sozinha ; ))
Passou...

Gosto de te ler... e obrigada pelas palavras que me deixaste... também te seguirei...

Beijos corajosos

Docinho disse...

Oh como percebo as tuas palavras... os teus medos... eu era assim... detestava...
Durante a gravidez perdi o medo... hoje já consigo ir sozinha ; ))
Passou...

Gosto de te ler... e obrigada pelas palavras que me deixaste... também te seguirei...

Beijos corajosos

Amélia do Benjamim disse...

Beguinha, qual é o teu e-mail?
Amélia