
Ao chegar a casa, depois do trabalho, tenho por estes dias as boas vindas do Beguinho e um sossego inquietante de uma casa sem Tigy. Agosto guardou para mim uma mistura de surpresas e acontecimentos, sem sabor definido ou rosto descoberto. Os dias de férias, entre a praia e o campo num Portugal que ainda só alguns descobriram. As festas de família, com casamentos, baptizados, bodas de ouro e aniversários. O regresso ao trabalho quase sem colegas, de sala vazia mas muito para fazer. A distância do Tigy que com os avós dá os primeiros passos e aprende as primeiras gracinhas. A estranheza de um mundo interior um pouco perdido de objectivos e, especialmente, de fortes vontades.
Talvez por tudo isto, ou simplesmente pela falta que, às vezes, nos faz a rotina, Agosto tem sido um mês gigantesco, com muitos dias dentro de outros dias, com muitos minutos semelhantes a horas e muitas tardes que mais parecem semanas completas. E, quando o tempo cresce sem medida, deixa muito espaço para saudades e para o passado entrar repentinamente pela porta ou por uma janela qualquer, ou então, entrar mesmo para dentro de nós... e ficar.
No meu passado cabe um ano inteiro em que vi e senti o meu bebé a soltar-se da minha barriga para o mundo, da minha vida para a dele. O Tigy, com um ano completo, já percorre a casa com os seus próprios joelhos e as palmas das mãos, já caminha na rua apenas por uma mão. O Tigy com um ano completo deixou as sopinhas sem sal e quer descobrir afinal o que costumamos ter nos nossos pratos. O Tigy com um ano completo carrega no nosso nariz para ouvir "trimmm", bate palminhas quando pedimos e diz "xau xau" quando é para ir embora. Porque o Tigy com um ano completo é cada vez menos um bebé.
No meu passado cabem muitos meses de Agosto cheios de tempo, mas nunca nenhum teve o sabor amargo a saudade que este mês tem.