04 janeiro 2013

20 coisas que eu quero que o meu filho
saiba até ao Natal até ao final do ano sempre

#15


Para o Tiago eu sou má porque não lhe dou pacotes inteiros de esparguete cru para ele comer antes do jantar. Sou má porque ganhei ao Uno em vez dele. Sou má porque mudei o canal de televisão após quase 4 horas seguidas de Disney. Sou má porque não lhe compro qualquer coisa que ele definitivamente não precisa. Sou má porque são horas de dormir e só li duas histórias em vez do livro inteiro.

Ontem, ao final da tarde, a história repetida e cansativa do “És má”, como resposta a todos os meus nãos e aos mais variados contratempos que lhe acontecem, esteja eu ou não envolvida, deu lugar a uma conversa séria entre nós dois, colados à lareira ainda a fazer as primeiras brasas.

Na sua maneira muito própria de dialogar, o Tiago manteve-se imperscrutável, fixado no ecrã da televisão, ouvindo-me como se eu não falasse, entendendo-me como se não me ouvisse. Expliquei-lhe, de diversas formas, que ele passar os dias a chamar-me má me deixava muito triste e que, ainda por cima, era muito injusto, porque o tratava bem e fazia tudo para ele estar bem disposto e ele, simplesmente, maltratava-me. Usei de palavras diferentes para dizer sempre o mesmo, exagerando em alguns termos e expressões, repetindo-me exaustivamente. Tudo no mesmo tom calmo e compassado, soletrando as palavras com cuidado para que se tornassem mais fortes, mais percetíveis.
Depois, mostrando no rosto como me sentia ferida e cansada, fui fazer o jantar e mantive-me calada na cozinha, a mexer o tacho do arroz.

Minutos depois o Tiago chamou-me e disse: “Mãe, desculpa. Desculpas?”, insistindo muitas vezes na pergunta, quase a choramingar, enquanto eu o enchia de beijinhos e dizia “Sim. Desculpo sim, claro!”.

O Tiago, no seu modo de ser arisco e inquieto, também para para pensar sobre as coisas que lhe dizem. Pode nem sempre cumprir, pode nem sempre admitir, mas o Tiago tem 7 anos e sabe pedir desculpa, sabe distinguir o que faz de bem e de mal, mesmo quando um lhe convém mais do que o outro. Eu lembro com ele como voltar atrás são passos em frente. Eu aprendo com ele como admitir não é ser vencido. Eu ensino-lhe a ele...


*




* Tem cuidado com as tuas palavras, uma vez ditas, elas apenas podem ser perdoadas, nunca esquecidas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Your mother disse...
Como eu te compreendo e como eu o compreendo....
Vencer sempre, é uma palavra que sempre acompanhou o Tiago...
Perder para ele é sinal de fraqueza e ele sente-se o MAIOR, o mais amado....
A "má" que ele tanto repete, apenas, serve para mostrar o quanto é possuidor..

Paula disse...

raios! que lindo!