
Para que um dia o Tigy também me veja assim...
"Uma casa em fase de mudança: uma balbúrdia temporária."
Assim estava definida a adolescência numa das muitas citações que eu tinha coladas num dos meus cadernos pretos do liceu. Naquele tempo, eu vivia mesmo esses dias de dramas e desafios e já dizia que aquela era, apesar de tudo, a melhor fase da vida. Porque naquela idade desculpam-se quase todos os erros, esquecem-se até os exageros das paixões e toda a virtuosidade das ideias e dos sonhos. Dentro daqueles anos coube, em mim, uma história longa de mais para agora a lembrar... Uma história de enganos e injustiças, de ingenuidade e poder, de um certo mistério e muito pouco tento. Essa é uma das grandes histórias da minha vida, a que me fez mais amarga do que rosa, a que me fez mais desconfiada do que sincera, mais premeditada do que emotiva. Essa é a história que me faz ser assim. Hoje. Adulta ou talvez não. Mãe. Mulher. E o importante é dizer que, se não fosse essa história, a minha adolescência teria sido uma qualquer e a minha vida, dentro da minha cabeça, seria muito mais... simples. Talvez.
Hoje, por ter voltado aos cadernos da escola, aos testes e aos colegas de turma, consegui lembrar-me friamente do que é, afinal, importante na minha adolescência. E foi assim que descobri as melhores coisas de mim vindas dela: a irreverência, os medos e as dúvidas constantes e dilacerantes, a sensação de ter o mundo inteiro à minha espera e, até, uma nostalgia saboreada nas palavras que escrevo e nas que apago, também.
Já agora, as melhores histórias da minha vida vivem comigo o dia-a-dia e são, realmente, as únicas que importam. Já sem saber bem como, parece que substituí as mágoas pelas esperanças e, sem certeza de qualquer espécie, enfrento os dias de balbúrdia com a inconsciência da adolescência.